Presidente do Bradesco era informado sobre ações ilícitas no Carf
AGUIRRE TALENTO
GABRIEL MASCARENHAS
DE BRASÍLIA
A Polícia Federal afirma, no relatório de indiciamento contra executivos do Bradesco realizado na terça (31), que o presidente do banco, Luiz Trabuco, era informado por seus subordinados das ações ilícitas realizadas no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).
O Carf é um órgão de recursos contra autuações da Receita Federal. Casos de corrupção nele são investigados pela Operação Zelotes, da qual o indiciamento foi um desdobramento.
Segundo a PF, a organização criminosa integrada pelo ex-conselheiro do Carf Jorge Victor Rodrigues, o auditor aposentado Jeferson Salazar e os funcionários da Receita Federal Eduardo Cerqueira Leite e Lutero Fernandes se juntou aos empresários do ramo de consultoria e advogados Mario Pagnozzi Junior e José Tamazato para negociar com o Bradesco a contratação para atuar em um processo do banco no Carf, que envolvia cobrança de R$ 2,7 bilhões.
Por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, a PF obteve detalhes das conversas do grupo já denunciado sob acusação de corrupção no Carf com intermediários do banco Bradesco.
O indiciamento de Trabuco e de mais nove pessoas se baseia principalmente nessas interceptações, apesar de não terem sido grampeados os executivos do Bradesco. Também não há indicações de repasses financeiros do Bradesco ao grupo ou a funcionários do Carf.
Nas interceptações, a PF detectou que Eduardo Leite esteve em uma reunião no Bradesco em 9 de outubro de 2014 e, segundo o relatório, Trabuco participou rapidamente do encontro.
“Salazar chega a dizer a Jorge Victor que Eduardo foi bem em suas colocações na reunião lá com o ‘Bra’ (Bradesco), que estavam todos, os vices e o presidente do Bradesco, o ‘Trabu’ (Trabuco), esteve presente, cumprimentou a todos e saiu, e que o Eduardo acha que ‘vai dar samba'”, descreve o relatório da PF.
Em uma das conversas interceptadas, Mario Pagnozzi afirma a Eduardo Leite que esteve em uma reunião no Bradesco e encontrou Trabuco. Segundo Mario, Trabuco o cumprimentou e agradeceu o empenho em “ajudar” o banco.
“Mario disse que em princípio ficou um pouco confuso, mas de uma coisa ele tinha certeza, de que os vice-presidentes que estariam negociando com o grupo do Mario Pagnozzi estariam reportando todas as tratativas para o presidente Trabuco”, escreveu o delegado da PF Marlon Cajado, em seu relatório.
E complementa: “Aliás, isso já tinha ficado constatado na esclarecedora ligação acima detalhada (…), em que Angelotti [executivo do Bradesco] teria perguntado ao Mário se eles poderiam fazer uma explanação na nova solução ofertada para Trabuco”.