ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE NOVA YORKApós um presidente negro e uma mulher candidatade um grande partido, os Estados Unidos têm mais uma chance de fazer história de novo: vote em Silva.
É o apelo de Rod, filho de imigrantes santistas, de quem herdou o sobrenome mais popular do Brasil, e um dos 1.811 inscritos na FEC (a comissão eleitoral federal) para pleitear o cargo de Barack Obama.
O mais provável é que você só ouça falar de 0,16% deles –a democrata Hillary Clinton, o republicano Donald Trump e, com alguma boa vontade, o libertário Gary Johnson, que em 2012 teve 1% dos votos e chega a 10% em sondagens para 2016.
É relativamente fácil concorrer a presidente nos EUA. São elegíveis, segundo a Constituição, aqueles com 35 anos ou mais (Silva tem 42), naturais do país e que nele residem há ao menos 14 anos (o filho de brasileiros é nascido e criado em Nova Jersey).
Também é moleza ser listado como presidenciável pela FEC –após “gastar” ou “receber contribuições de US$ 5.000”, preenche-se um formulário. Pronto.
Difícil é fazer com que o eleitorado saiba que você existe. Cada um dos 50 Estados americanos tem regras específicas para inserir um candidato na ficha eleitoral. Nacionalmente, só Hillary e Trump conseguiram o feito.
Injetando “centenas de milhares de dólares” na campanha, Silva garantiu sua presença em um deles: Colorado. Mas lembra que o eleitor pode escrever ou até colar um adesivo com o nome de um independente.
Ele não é um total desconhecido nos EUA. Em 1995, fundou uma rede de restaurantes com alternativas saudáveis a perdições culinárias, a Muscle Maker Grill, na qual o hambúrguer premium vem com bacon de peru.
A motivação eleitoral: nunca viu os EUA mais gordos e decidiu fazer algo a respeito. “As pessoas aqui são tão grandes e estressadas”¦”
Diz representar o Partido da Nutrição, think tank criado com amigos do “mundo fitness” –do qual faz parte desde que, aos 15, uma namorada o chamou de “magrelo”.
Hoje malha todos os dias, após ler a Bíblia e discursos motivacionais no Facebook –gosta dos de Tony Robbins, de quem o ex-presidente Bill Clinton também é fã.
O slogan, “Faça a América Saudável de Novo”, é quase gêmeo ao “Faça a América incrível de novo” de Trump.
Também sua retórica lembra a do magnata: “Não sou da panelinha de Washington. Como empresário de sucesso, entendo de desafios econômicos”, afirmou.
Se Trump conta ter iniciado a carreira empresarial com um “pequeno empréstimo” (US$ 1 milhão do pai), Silva começou a sua com crédito de US$ 6.000 (R$ 20,2 mil).
O terrorismo que ninguém discute, diz, são as “ogivas” de carboidratos e açúcares na mesa americana.
Dói no corpo (o colesterol alto afeta 71 milhões de conterrâneos) e no bolso (a pressão alta da população custa US$ 46 bilhões por ano ao país), segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
O presidenciável que fala português com sotaque (adora “crow-quêi-tchi”, o croquete) admite: não vê chances de pisar no Salão Oval. A meta é dar projeção a bandeiras como o subsídio para cidadãos entrarem na academia.
Silva, que votou no republicano Mitt Romney em 2012, acha que Hillary e Trump estão fora de forma não só politicamente. Veja o magnata, que apresentou carta do próprio médico assegurando que seria “o mais saudável” dos presidentes. “Se eu tivesse seus bilhões, trabalharia duas vezes mais [no físico].”
Por fora da política brasileira, surpreende-se ao saber que Dilma Rousseff, antes de ser afastada por supostas pedaladas fiscais, aderiu à bicicleta. “Talvez esse seja seu chamado.”
Para Rod Silva, saúde é o que interessa.