Ricardo Senra
Em São Paul
“Eu dei uma aula de PMDB ao Crivella antes da eleição”, diz Anthony Garotinho à BBC Brasil
Está enganado quem pensa que Marcelo Crivella (PRB) –bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por seu tio, Edir Macedo– transformará a prefeitura carioca em um governo teocrático, orientado por versículos da Bíblia e dogmas evangélicos. Quem afirma é o ex-governador Anthony Garotinho (PR), um dos caciques do partido do vice de Crivella, Fernando MacDowell, e espécie de “conselheiro pessoal” do novo prefeito nos últimos meses.
Mesmo atuando só nos bastidores, Garotinho adianta que Crivella fará no Rio de Janeiro um “governo conservador e de direita”, obstinado em conquistar simpatia de setores não religiosos e da elite.
Segundo o ex-governador, Crivella deve fugir de radicalismos religiosos porque não pretende por em risco a ascenção de membros da igreja a cargos de destaque.
“Eu não subestimaria o governo do Crivella. Quem subestimou as atitudes do bispo Macedo se deu mal”, alerta Garotinho.
“Eles são extremamente profissionais. O bispo botou sua igreja em mais de cem países. Tem mais seguidores fora do Brasil do que dentro. Vendia bilhetes (de loteria) e hoje tem a segunda maior rede de televisão do país. Tem cem emissoras de rádio. Disse que ia construir uma réplica do Templo de Salomão e agora vai fazer mais três. Na prefeitura, não deve ser diferente e quem espera amadorismo vai se decepcionar.”
Em entrevista de mais de duas horas à BBC Brasil, ele nega acusações de envolvimento com milícias, se diz vítima de perseguição de juízes e dispara críticas a dezenas de desafetos políticos, especialmente do PMDB.
Garotinho é conhecido nos corredores de Brasília por carregar pastas pretas com dossiês recheados de escrituras, declarações de Imposto de Renda e cópias de documentos de figuras como o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Jorge Picciani.
“O PMDB é como uma prostituta. Dorme com tudo mundo, faz amor com todo mundo, mas não se apaixona por ninguém”, dispara, citando a conclusão de uma conversa antiga, à beira de uma lareira em Petrópolis (RJ), com Leonel Brizola, seu ex-padrinho político. O partido não comenta as críticas.