SÃO PAULO – Além de pagar R$ 1,3 milhão por meio de caixa dois à campanha de 2014 do presidente do Partido Progressista e senador Ciro Nogueira (PP-PI), a Odebrecht pagou naquele mesmo ano outros R$ 500 mil, em doação oficial, à candidatura da deputada Iracema Portela, casada com o senador. As informações constam de delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Ciro Nogueira, conhecido de longa data de Melo Filho no Piauí, já havia recebido R$ 300 mil nas eleições de 2010, quando era deputado e concorria à vaga no Senado. “Ele me solicitou dinheiro quando ainda era deputado, em uma conversa em seu gabinete. Ele não prometeu nada, usou a prerrogativa da amizade para me fazer a solicitação”, afirmou o ex-diretor, que acrescenta que a doação a Iracema também foi um pedido de Nogueira.
Na lista de controle do “departamento de propinas” da Odebrecht, chamado oficialmente de setor de Operações Estruturadas, Nogueira tinha dois codinomes: “Helicóptero” em 2010 e “Serrado” em 2014. “O codinome helicóptero fui eu que coloquei porque nesse bate-papo ele me disse que gostava de helicóptero e fiquei isso na minha cabeça”, disse.
Os R$ 1,3 milhão foram entregues a Nogueira em espécie e, segundo Melo Filho, foram pedidos pelo senador como presidente do partido, e seriam distribuídos aos demais candidatos. Os valores das doações foram estabelecidos por Benedicto Junior, que na época comandava o centro de distribuição de propinas da Odebrecht.
Apesar do montante expressivo recebido por ele e pela esposa, Nogueira decepcionou na defesa dos interesses da construtora em um projeto de mobilidade urbana em Salvador e contratos de energia para o Nordeste – previsto na MP 656. “Quando a gente discutia energia no Nordeste e a renovação de contratos, houve um veto da Presidência da República. E quando o veto foi apreciado no Congresso, eu fui a ele [Nogueira] e pedi um apoio. Mas na lista de presença da sessão que manteria ou derrubaria o veto, vi que o senador Ciro Nogueira sequer foi lá.”
Melo Filho mostrou à PGR a lista de presença da votação do veto número 4 da Medida Provisória 656. “Essa lista que eu trouxe é exatamente para mostrar que eu fiz um pedido a ele e lá ele não foi. Fiz um pedido e esperava, sincera e honestamente, que ele lá estivesse”, afirmou.
(Ligia Guimarães | Valor)