Por Victória Mantoan | Valor
SÃO PAULO – Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o executivo Marcelo Odebrecht atribuiu a falta de apoio do governo federal para ajudar a resolver as dificuldades em torno da Arena Corinthians ao fato de a ex-presidente Dilma Rousseff sempre ter encarado a Copa do Mundo como um “pepino”.
Ele relata que, em um dos contatos em que teria dito a Dilma que se ela não entrasse no assunto com o peso do governo federal perante a Fifa, a federação ia “deitar e rolar” com os Estados, a ex-presidente teria respondido que era “problema dos Estados”. “Ela tinha muito disso. Não via como compromisso dela”, disse.
Marcelo defende em seu depoimento não ter havido “dolo” no caso do estádio por dificuldades criadas, mas, sim, porque “aqueles representantes sentados à mesa no jantar prometeram coisas que depois não podiam ou não conseguiam cumprir”. O executivo se refere ao jantar em que ficaram acertadas as responsabilidades em torno da construção da Arena.
O jantar aconteceu, diz, na casa de Marcelo Odebrecht, com a presença de Geraldo Alckmin representando o governo estadual de São Paulo, Gilberto Kassab pela prefeitura e Luciano Coutinho, então presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo governo federal, além de Andres Sanchez e Luiz Paulo Rosemberg pelo Corinthians. Até o Ronaldo “Fenômeno”, diz o executivo, esteve presente.
Nesse jantar, teria sido acertado “informalmente” o que viria a ser o modelo final de compromissos que cada um assumiria, afirmou. O clube toparia entrar com o orçamento inicial previsto para um estádio que não seria de Copa do Mundo, cerca de R$ 400 milhões. Kassab, por sua vez, teria se comprometido com cerca de R$ 450 milhões em Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs) e com a estrutura provisória para a Copa do Mundo, enquanto Coutinho entraria com o empréstimo do BNDES. Além disso, o governo do Estado faria as obras do entorno do estádio.
Ainda nesse encontro teria ficado acertado que a Caixa Econômica Federal (CEF) seria a repassadora e que a estrutura para retirar o “risco clube” seria a criação de uma SPE Imobiliária. “O banco não estaria emprestando para o clube e, sim, para a SPE.”
No relato, o executivo dá conta de diversos problemas na execução desse plano. Atribui uma parte das questões a Kassab não ter cumprido sua parte, à demora na liberação do financiamento e a exigências da Fifa.
“Alckmin foi, na prática, o único que cumpriu o que prometeu.”
Questionado sobre a razão de a Odebrecht não ter saído do projeto, Marcelo disse que a obra já estava acontecendo. “Nessa altura do campeonato, a gente ia ter toda a torcida do Corinthians contra a gente”, disse. “A gente foi um bobo. Você [se questiona] será que todo o dinheiro que a gente deu, todo o acesso que a gente criou, será que ajudou a gente ou prejudicou?.”
(Victória Mantoan | Valor)