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Doze pessoas conseguiram sobreviver ao incêndio em Portugal ao se abrigarem em uma caixa d’água.
Moradores de um vilarejo tomado pelas chamas, incluindo uma mulher deficiente de 95 anos, passaram mais de seis horas aguardando por socorro no tanque.
O incêndio, que atinge a região central Portugal desde o sábado, matou 62 pessoas – muitas delas estavam dentro de veículos que tentavam escapar. Até esta segunda-feira, bombeiros ainda tentavam conter o fogo, que segue se espalhando pela região. Focos foram registrados em duas novas áreas: Castelo Branco e Coimbra.
Maria do Céu Silva foi saudada como heroína depois de usar a caixa d’água da sua casa para abrigar vizinhos em Nodeirinho, vilarejo próximo à rodovia IC8, que foi fortemente atingido pela tragédia.
A ideia, disse Silva, surgiu quando ela tentava salvar sua mãe deficiente.
“Meu marido disse para colocá-la na camionete, mas ela não conseguia entrar sozinha, e me disse: ‘Deixe-me morrer aqui'”, contou ao jornal português Correio da Manhã. “Com a ajuda do meu filho, conseguimos pegá-la e levá-la para lá”.
Seu pai, de 81 anos, também foi abrigado na caixa d’água.
O vento era tão forte que os telhados das casas foram levados, afirmou ela. “Foi como um filme de terror.”
Tentativas de escapar
Maria de Fátima Nunes e seu marido dirigiam pela rodovia quando seu carro foi atingido pelo fogo. “Meu marido foi queimado no braço. Eu sofri queimadura também, no peito”, contou ao SIC Notícias.
“Havia fogo no topo de pinheiros e eles estavam caindo sobre os carros. O incêndio vinha de todos os lados. Os carros bateram entre si tentando escapar.”
Segundo ela, o casal que estava no carro atrás deles não conseguiu escapar e morreu. “Eu gritei para uma mulher sair do carro, mas ela não saiu. Seu marido saiu, mas morreu lá.”
Os focos de incêndio começaram no sábado em meio a uma intensa onda de calor, com temperaturas superando os 40°C em algumas áreas, além de uma sequência de raios e trovões.
A polícia diz que o fogo pode ter começado após um raio atingir uma árvore. Embora tenha chovido nesta segunda-feira, a situação foi descrita pelas autoridades de proteção civil como preocupante.
“Percebemos que estávamos presos em um vilarejo chamado Mó Grande, na saída da rodovia IC8; nós e outras pessoas fomos levadas para lá por um funcionário da rodovia.
Enquanto subíamos a estrada na montanha, era possível ver as chamas saltando de um lado a outro no vale. O vento soprava galhos de árvores em direção ao carro, mas não podia parar. Era possível sentir o calor.
No fim chegamos a um pequeno vilarejo em um cruzamento cercado por fogo. Nós e os moradores chorávamos, aturdidos pelo calor e pela velocidade do fogo. Estava muito escuro entre as chamas.