PSB define se apoia Lula ou Ciro; por que o partido é chave na eleição?

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

A direção nacional do PSB tem uma reunião marcada para a próxima quinta-feira (19) para decidir qual partido apoiará nas eleições presidenciais. Após anunciar que não terá candidato próprio ao Palácio do Planalto, a legenda tem sido cortejada principalmente pelo PDT e pelo PT, que intensificaram na última semana o “cabo de guerra” para conquistar o apoio dos socialistas.

Os pedetistas se movimentam para que a reunião resulte em um apoio à legenda. O nome de Ciro Gomes como candidato à Presidência da República e do vice na chapa dele serão confirmados no dia seguinte, sexta-feira (20), durante convenção nacional do partido.

Tanto Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT, quanto o próprio Ciro se reuniram com lideranças do PSB, a exemplo de Paulo Câmara, governador de Pernambuco, estado considerado peça-chave na definição de alianças nacionais. Ciro também esteve com o governador de São Paulo, Márcio França, na mesma semana.

Mas por que ter o PSB no barco durante a campanha eleitoral é tão importante para os dois partidos de esquerda? Para os cientistas políticos ouvidos pelo UOL, uma aliança com o PSB significaria principalmente mais tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão para Ciro Gomes, além de ampliar a visibilidade do pedetista nos maiores colégios eleitorais do país: São Paulo e no Nordeste.

Do outro lado, o PT, além de ampliação no seu tempo de TV, conseguiria manter uma aliança histórica iniciada em 1989, abalada pelos episódios do impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e do apoio dado pelos socialistas ao governo do seu vice, Michel Temer (MDB), e se fortalecer nos estados.

Gleisi fala com jornalistas ao lado de Paulo Câmara após reunião no Recife

“PT tem um problemão para saber com quantos apoios ele vai poder contar nessas eleições, porque em 2016 já se indicava que ele estava perdendo apoio em diferentes cidades, seja do eleitorado e dos seus próprios filiados”, explica a cientista política e professora da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro Sousa Braga.

Com apoio do PSB e “centrão”, Ciro lideraria horário eleitoral

Sozinho, o PDT tem direito a 4% do tempo de TV e rádio para a campanha presidencial. Se conseguisse se coligar com o PSB, esse tempo subiria para 10% — segundo levantamento feito por uma instituição financeira ao qual o UOL teve acesso e que leva em consideração a movimentação dos partidos em torno de alianças na última semana.

Além do PSB, Ciro também busca apoio do chamado “centrão” – bloco cujo núcleo duro é formado por DEM, PP, SD e PRB. Caso ele consiga fechar alianças com esses partidos, ele teria direito a 28% do tempo e, assim, passaria Geraldo Alckmin, cujo tempo de TV já é estimado em 25% do total, com os apoios já sinalizados do PSD, PTB, PPS e PV.

“O PSB e o PDT são pragmáticos. Ciro quer vencer a eleição, não interessa com quem. Como o DEM não tem condições de lançar um candidato sozinho e está vendo que o PSDB não tem um candidato capaz de levá-lo a continuar no poder, a tendência vai ser ir com Ciro”, diz Braga.

Com a maior bancada de deputados federais, o PT sozinho tem 13% do tempo de TV. Se conseguir aliança apenas com o PSB, o número subiria para 19%.

“Os candidatos com mais tempo de TV, em geral, são os mais bem colocados nas disputas majoritárias”, diz Graziele Silotto, doutoranda e pesquisadora no Neci-USP (Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais da Universidade de São Paulo).

Fator Lula, a pedra no sapato da candidatura de Ciro

Apesar de estar preso desde o dia 7 de abril na sede da Polícia Federal, em Curitiba, cumprindo pena 12 anos e um mês de prisão em regime fechado, o pré-candidato do PT à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segue invicto no primeiro lugar das pesquisas eleitorais. De acordo com a Lei da Ficha Limpa, Lula estaria inelegível após a condenação no TRF-4 , a defesa do petista por sua vez já entrou com recursos nas instâncias superiores para tentar reverter a condenação dele no caso do tríplex do Guarujá (SP). Lula afirma ser inocente e que não há provas capazes de incriminá-lo.

A dúvida sobre se Lula poderá ou não ser candidato é o principal entrave, segundo especialistas, para que o PSB firme uma aliança com o PDT de Ciro.

Os ouvidos pelo UOL afirmam que a eleição será uma com Lula como candidato, e outra completamente diferente se ele não puder se concretizar como candidato do PT. “O PSB tem muito mais chances continuar no poder ou de fazer mais governadores nos estados se apoiar o Lula, se Lula realmente for candidato”, acredita Braga.

Para Silotto, se o PT não conseguir lançar Lula e optar por um “plano B” existe o risco de que essa candidatura seja “queimada”, o que não interessaria ao PSB. “Se eles já não estão lançando cabeça de chapa, que pelo menos se coliguem com um candidato que tem chances eleitorais para vencer. Nesse aspecto, talvez uma aliança com algum outro partido, como o PDT, acabe sendo mais racional do ponto de vista das lideranças partidárias”, afirma.

Mesmo que não possa ser candidato, a possibilidade de Lula ser solto pode por si só impactar o resultado das eleições, segundo o cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Jairo Pimentel. “Naturalmente o PSB tenderia a apoiar o PT. Mas o fato é que Lula solto ou Lula preso é uma variável que impacta nessa decisão, porque solto, o candidato que ele apoiar tem grandes chances de chegar ao segundo turno. Ele preso, essas chances diminuem”, diz.

Para Braga, no cenário em que as lideranças tiverem certeza que Lula não será candidato, a tendência é que o PSB apoie o PDT no âmbito nacional. “No máximo, [o PSB] vai apoiar [o PT] em alguns estados”, acredita.

Roberto Pereira/SEI

Ciro Gomes ao lado do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), no Recife

Apesar da internet, tempo de TV ainda é importante

Levando em consideração apenas o horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, os candidatos a presidente terão 25 minutos por dia, divididos em dois blocos de transmissão de 12 minutos e 30 segundos. Os programas dos presidenciáveis serão transmitidos às terças, quintas e sábados. Os partidos também têm direito a inserções diárias na programação das emissoras de rádio e televisão.

A divisão do tempo no horário eleitoral gratuito é regulada por legislação, que estabelece que 90% do tempo seja distribuído proporcionalmente de acordo com o número de deputados federais eleitos em 2014. Os outros 10% são distribuídos igualmente entre todos os candidatos.

Apesar da influência das redes sociais no cenário eleitoral, os especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que veículos tradicionais de comunicação ainda detêm a maior importância para a definição de intenções de voto por parte dos eleitores.

“A internet, por mais que seja um fator relevante, ela ainda não se mostrou mais importante que a televisão. Ele não é algo à parte da TV. Tem que ser usada de maneira integrada para fomentar também elementos que estão na TV, porque ela continua sendo hegemônica como fator preponderante para o resultado das eleições”, afirma Pimentel.

Força regional do PSB faria Ciro superar Marina

O PSB governa São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco e Paraíba, além de ser a nona bancada federal, em número de deputados. “Onde o PSB tem condições de ajudar o Ciro? Em São Paulo, por causa da visibilidade do Marcio França (atual governador), em Pernambuco e aí no Nordeste, que é onde o PSB é mais forte, dada a trajetória do partido. […] Me parece que Sudeste e Nordeste, com o PSB apoiando Ciro, poderiam alavancá-lo, porque são os maiores colégios eleitorais”, diz Braga.

Ela acredita que a aliança se traduziria em intenções de votos que seriam capazes de colocar Ciro no segundo lugar das pesquisas, no cenário sem Lula. “Poderia ocupar o lugar da Marina [Silva] com um apoio desses”, acredita. Sem Lula, Ciro ocupa o terceiro lugar da última pesquisa do Datafolha, a frente numericamente de Geraldo Alckmin (PSDB), mas empatado tecnicamente.

A direção nacional e grande parte dos diretórios regionais do PSB querem apoiar Ciro, mas o pedetista enfrenta resistência de governadores do Nordeste, especialmente do pernambucano Paulo Câmara, devido a articulações políticas internas com o PT, e de deputados federais da legenda nessa região que veem em uma aliança com o PT, forte no Nordeste, um passo para a reeleição.

Na contramão, Ciro recebeu na semana passada sinalizações positivas do governador de São Paulo, Márcio França, e do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB).