Conheci o lugar onde Lula nasceu, a pequena Caetés, antigo distrito de Garanhuns, no sertão de Pernambuco.
Caminhando por ali, enquanto a equipe gravava cenas para o programa eleitoral da campanha presidencial de 2002, fiquei pensando como foi possível aquele menino franzino de 7 anos sair dali num pau-de-arara, numa viagem de 13 dias até São Paulo, para se tornar um dos maiores líderes políticos do Brasil de todos os tempos, admirado em todo o mundo.
Hoje Lula faz 75 anos, firme e forte, quem diria, o que é mais um milagre brasileiro, que só Deus explica.
Como foi possível ele sobreviver a tantos obstáculos que enfrentou, antes e depois de ser eleito presidente da República?
Confinado em casa há sete meses, por causa da pandemia, depois de passar quase dois anos na prisão, dessa vez só vai poder comemorar com a família e a namorada Janja, sem aquele mundão de gente à sua volta, como aconteceu nos outros aniversários, desde que deixou de ser um anônimo retirante.
Mas, para lembrar a data, há comemorações marcadas em 17 países e em várias cidades brasileiras (ver matéria no portal Brasil 247).
Amigo de Lula há mais de 40 carnavais, eu não tenho nada de novo para contar sobre essa figura rara, que ficou grande sem deixar de ser o menino de Caetés, na sua simplicidade sertaneja, sempre em busca de um novo desafio na vida.
Só escrevo pra não deixar esse dia passar em branco, pois não encontrei nenhum registro no noticiário, mais ou menos assim como se ele já tivesse morrido.
Achei estranho. O nome de Lula há tempos só é lembrado em processos da Lava Jato, que não acabam nunca, e voltam sempre às vésperas de eleições.
Tão inexplicável quanto a sua improvável trajetória de vida, saindo do fundão do Brasil para o mundo, é o ódio que hoje lhe dedicam setores da sociedade brasileira que foram beneficiados pelos seus dois governos, que mudaram a cara do Brasil e a imagem do país no mundo, hoje tão avacalhada.
Se você perguntar às pessoas na rua porque elas têm tanta raiva do Lula e o xingam de ladrão, sem mais nem menos, não encontro ninguém que consiga me explicar com fatos concretos.
Reviraram a vida do sujeito do avesso, pediram ajuda até ao FBI, e não foram capazes de provar, após seis anos de Lava Jato, um único ato de corrupção, uma conta na Suíça, malas de dinheiro, apartamentos em Miami ou lanchas em Angra dos Reis.
Quiseram condená-lo até por ter feito palestras para grandes empresas, mas nunca investigaram as palestras da dupla de algozes Moro & Dallagnol, aqui e no exterior. Outros ex-presidentes nunca foram incomodados por isso.
No Roda Viva de segunda-feira, espremeram num pau-de-arara virtual o marqueteiro João Santana, que trabalhou em campanhas de Lula e Dilma, para ele falar mal dos dois, mas só descobriram que o “caixa dois” move todas as campanhas eleitorais no Brasil _ todas elas _ desde a República Velha.
Só gostaria de fazer uma pergunta aos que vão me atacar por ter escrito esta coluna: você vivia melhor nos governos do Lula ou vive melhor agora?
Apesar de tudo e de todos, e de tantos entreveros que tivemos pela vida, eu continuo tendo muito orgulho de ser amigo desse “Nego Véio”, desde os tempos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde nos conhecemos, antes do PT nascer. Amigos são para sempre.
Vida que segue.