DANIELA LIMA
DE BRASÍLIA
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não quis ligar a TV. Preferiu não assistir à sessão em que a maioria dos colegas que integram o Conselho de Ética da Câmara votou pela aprovação do relatório que pede a cassação de seu mandato, na terça (14). “Não quis me irritar”, justificou a um interlocutor. “Não posso comprometer minha capacidade de reação.”
Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro,afastado do mandato desde maio sob a alegação de que age para atrapalhar as investigações de que é alvo, ele não se dá por vencido. Costuma dizer, diante das especulações sobre a perda do mandato e da possibilidade de prisão, que há “muita guerra pela frente”.
O clima que cerca o peemedebista hoje, no entanto, evidencia que ele está longe do que foi seu auge. Às vésperas da votação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, em abril, a antessala de seu gabinete tinha ao menos 20 deputados. Havia revezamento para falar com ele.
Atualmente, aliados escolhem horários insólitos para visitá-lo. Chegam ou muito cedo, às 7h da manhã, ou muito tarde, depois das 23h, para evitar a imprensa. Muitos pedem para usar as entradas alternativas da residência oficial, as mesmas que Cunha utiliza para entrar e sair sem ser visto ou filmado.
Afastado dos salões oficiais, abandonou terno e gravata. Fica de camisa e sapatos sociais. Passa os dias debruçado sobre os processos a que responde e os que atingem sua mulher e filha. Cita de cabeça casos semelhantes, reclama de perseguição da imprensa e teoriza sobre a “criminalização da atividade parlamentar”.
Faz comparações para rebater as acusações de que manobra para protelar o desfecho de seu processo de cassação. Diz que, em outras ocasiões, a Casa levou um ano e meio para punir um deputado.
Defende-se dizendo que, se algum aliado é deslocado para comissões que avaliam seus casos, a mídia registra e critica, mas quando abrem espaços para quem ele considera um adversário, “ninguém diz que houve manobra”.