Na última semana o jornal russo Pravda (que não é o mesmoPravda da União Soviética, mas um diário liberal no sentido político, democrata) publicou reportagem onde coloca em questão a possibilidade de a CIA (Agência Central de Inteligência), o FBI (Agência Federal de Investigação) e a NSA (Agência de Segurança Nacional), departamentos do governo norte-americano, estarem envolvidos nos protestos contra o governo Dilma Rousseff.
A razão principal para a intervenção dos EUA nos rumos do governo brasileiro seria o BRICS (Brasil, Rússia, China e África do Sul) “principal ameaça geopolítica para os EUA”, diz o site. Porque um dos “principais problemas hoje é recuperar o equilíbrio no sistema monetário e financeiro global”. E o BRICS aparece como uma ameaça real ao predomínio do dólar norte-americano na economia mundial.
O jornal destaca que os EUA vem tentando “destruir e esmagar a Rússia através da crise na Ucrânia”. Importante lembrar que recentemente o imperialismo assumiu seu envolvimento no golpe que derrubou o governo Ianokvtich. Tentaram quebrar a estabilidade da China através da “revolução de guarda-chuvas” em Hong Kong. E no Brasil tentam criar um cenário semelhante ao que fazem em outros países “soberanos da região – Argentina e Venezuela”.
Ainda entre as razões para os EUA quererem “se livrar de Dilma” estaria a criação do Banco de Desenvolvimento e a construção de um sistema de telecomunicação em fibra ótica independente, com extensão pelo Atlântico ligando o Brasil à Europa o que minaria o “monopólio norte-americano no campo da comunicação, incluindo a internet”. O projeto deve ser “desenvolvido e implementado sem a participação de qualquer empresa norte-americana”. O que garantiria proteção contra a espionagem da NSA.
O Pravda apresenta o que seria um esquema de funcionamento da estrutura pra o golpe:
1) “Processamento da opinião pública com base em desvantagens reais, promovendo descontentamento através da mídia, enfatizando tais perturbações como déficit, crime, sistema monetário instável, incapacidade de líderes do estado e suas denúncias de corrupção”;
2) “demonizar autoridades através da manipulação de preconceito dizendo, por exemplo, que todos os brasileiros (russos, chineses) são corruptos, segurando as ações públicas em defesa da liberdade de imprensa, direitos humanos e as liberdades civis, condenando o totalitarismo, revisando a história em favor das forças que devem ser levados ao poder”;
3) “trabalhando na rua; canalizar os conflitos, promover a mobilização de oposição, o desenvolvimento de plataformas de combate, que englobam todas as demandas políticas e sociais, a compilação de todos os tipos de protestos, habilmente jogar nos erros do Estado, organizando manifestações, a fim de bloquear a captura de instituições do Estado para radicalizar confrontos”;
4) “a combinação de diferentes formas de luta; a organização de piquetes e captura simbólica das instituições do Estado, guerra psicológica nos meios de comunicação e promoção de confrontos com a polícia, para criar uma impressão de descontrole, desmoralizando as agências governamentais e policiais legítimas”;
5) “um golpe institucional, com base em protestos de rua, pedindo a renúncia do presidente”.
Em que fase está a revolução colorida que se desenvolve no Brasil?, questiona o Pravda. E conclui: “a situação se agrava na frente de nossos olhos e parece que as autoridades brasileiras fecham os olhos sobre as atividades da inteligência dos EUA que acontece debaixo de seus narizes. No Brasil, a CIA, DEA e os oficiais do FBI trabalham legalmente, sob o pretexto da luta contra o tráfico de drogas. ONGs e fundações que patrocinam revoluções coloridas também trabalham no país.
“O jornalista venezuelano José Vicente Rangel informou que cerca de 500 funcionários dos serviços de inteligência dos EUA chegou a embaixadas dos EUA na Venezuela, Bolívia, Argentina, Brasil, Equador e Cuba para trabalhar como uma rede para desestabilizar regimes democráticos nesses países. O que vai acontecer depois? Já podemos ver o exemplo da Ucrânia”.
Durante a manifestação do dia 15 em São Paulo, no carro de som do grupo que defende a intervenção militar mais de uma vez foi afirmado que tal defesa contava com apoio, e ali na manifestação estava presente, organismos norte-americanos e de outros países imperialistas.
Fechar os olhos para os interesses do imperialismo na derrubada dos governos do nacionalismo burguês, na América Latina e no resto do mundo, em plena época de golpes (vide Egito, Ucrânia, Tailândia, Honduras, Paraguai…) é mais que cegueira política; é colaborar com o golpe e com a direita que se desenvolve a olhos vistos no País.