Perigo: cientistas encontram em paciente no Rio Grande do Norte um gene que torna bactérias resistentes ao antibiótico mais poderoso do mundo

IMG_1441POR O GLOBO

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) registraram o primeiro caso no país de infecção humana por uma “superbactéria” resistente ao antibiótico de último recurso colistina. O caso foi relatado em um paciente de um hospital de alta complexidade em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Também foi registrado o primeiro caso de infecção em animais de produção.

Os cientistas da USP identificaram a presença do gene mcr-1 em cepas da bactéria Escherichia coli isoladas de animais de produção. Este gene é responsável por tornar as bactérias resistentes à antibióticos, inclusive o mais poderoso do mundo: a colistina, ou polimixina E. Especialistas alertam para a possibilidade do aparecimento de outras superbactérias. O gene mcr-1 foi identificado pela primeira vez na China no final de 2015. Ele vem se espalhando por diversos países desde então, tendo chegado aos EUA em maio de 2016.

“A aparição desse gene no Brasil pode contribuir para o surgimento de bactérias totalmente resistentes aos antibióticos, com risco de enfrentarmos uma situação similar ao que foi a era pré-antibiótica, quando doenças comuns, como uma infecção urinária ou um ferimento profundo na pele, levavam facilmente a óbito”, explicou Nilton Lincopan, coautor dos estudos publicados nos periódicos “Eurosurveillance” e “Antimicrobial Agents and Chemotherapy”.

O gene já havia sido identificado anteriormente em países da Europa, Ásia e África, além dos Estados Unidos. Entretanto, uma das maiores preocupações das agências de saúde é a facilidade com que o mcr-1 se transfere para outras bactérias. Além da Escherichia coli, o gene já foi encontrado em bactérias comoSalmonella spp.Klebsiella pneumoniae.

A colistina é um medicamento de último recurso no tratamento de infecções produzidas por bactérias multirresistentes. Descoberta em 1949, ela deixou de ser utilizada em seres humanos entre 1970 e 2000, por conta da alta toxicidade, ficando restrita ao uso veterinário. No entanto, com o aparecimento de bactérias resistentes a praticamente todos os antibióticos beta-lactâmicos, como as penicilinas, a droga voltou a ser utilizada.

Risco ao agronegócio

Lincopan suspeita que haja uma cadeia de disseminação da resistência à colistina em animais de produção, o que pode representar um risco para o agronegócio no Brasil.

“No Brasil, no início deste ano, nosso grupo de pesquisa identificou pela primeira vez a presença do gene mcr-1 em animais de produção nas regiões Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Santa Catarina), o que deve ser considerado uma urgência epidemiológica e um alerta para as implicações no agronegócio, visto que o país é um grande produtor e exportador de produtos de origem animal”, explica o pesquisador