SÃO PAULO – Uma gravação entregue pelo empresário e delator Marcos Andrade Barbosa Silva, do setor de ônibus do Rio de Janeiro, mostra o presidente afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), Aloysio Neves, admitindo o esquema de pagamento de propina no órgão. Feita em 13 de dezembro de 2016, a gravação foi entregue por Marcos para firmar um acordo de delação premiada. O jornal “O Globo” obteve acesso ao áudio.
O dia da gravação é o mesmo da deflagração de uma das fases da Lava-Jato no Rio que conduziu coercitivamente o ex-presidente do TCE-RJ Jonas Lopes para prestar depoimento. Na conversa, o empresário demonstra preocupação com os esquemas ilícitos do tribunal. Por isso, Aloysio Neves explica o que sabia sobre atos ilícitos envolvendo o recebimento de propina pelos conselheiros. Ele afirma, porém, que diversas cobranças de propina eram “voo solo” de Jonas Lopes.
Aloysio Neves foi afastado da presidência do TCE-RJ por ordem do Superior Tribunal de Justiça em março do ano passado, quando foi deflagrada a “Operação Quinto do Ouro”. O conselheiro foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) na semana passada pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Mesada
Num trecho da conversa gravada, o empresário questiona Aloysio Neves sobre o recebimento de uma mesada de R$ 100 mil paga pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). O conselheiro confirma o relato e diz que recebia os pagamentos primeiro do ex-secretário Hudson Braga e, posteriormente, segundo os investigadores, de Luiz Carlos Bezerra, operador do político.
Carlos Miranda, ex-secretário do governo Cabral e outro delator, confirmou em sua delação premiada o pagamento de mesada de R$ 100 mil a Aloysio Neves. Segundo ele, o pagamento era feito desde janeiro de 2007, quando ele era chefe de gabinete da presidência da Assembleia Legislativa do Rio.
Na denúncia apresentada na semana passada contra Aloysio Neves, a PGR aponta que ele recebeu o valor de R$ 100 mil ao menos 87 vezes entre janeiro de 2007 e março de 2014, quando já era conselheiro do TCE-RJ. Ele se tornou conselheiro do TCE em abril de 2010, tornando-se vice-presidente do órgão em 2015 e 2016 e presidente em 2017, até ser afastado do tribunal.
“Parte desse dinheiro foi entregue em galerias de arte. Foram cinco pagamentos ao galerista Francisco, no Shopping Cassino Atlântico, e aproximadamente cinco pagamentos, feitos a Silvia Cintra, na rua das Acácias”, afirmou Carlos Miranda.
Em depoimento aos investigadores, a galerista Silvia Assunção, dona do empreendimento citado por Carlos Miranda, confirmou que chegou a receber pagamentos em nome do conselheiro, feitos em espécie por terceiros.
Miranda contou, ainda, que fez repasses para diversas pessoas em diferentes endereços no Rio, e que uma delas se chama Pierre Areias, na época responsável pelo pagamento de viagens do conselheiro, que “eram bem caras e giravam em torno de R$ 300 mil”. Pierre trabalhava em uma agência de viagens de um funcionário do gabinete do deputado Jorge Picciani. Em depoimento aos procuradores, ele confirmou que conheceu Aloysio Neves por meio de Cabral e que recebeu dinheiro em espécie para prestar serviços a ele.
“A mensalidade era paga em espécie e os valores eram entregues na casa de Aloysio Neves, na rua Prudente de Moraes, 514/301, ou no gabinete junto à Assembleia”. Os apelidos referentes ao conselheiro, segundo Miranda, eram “Lulu” ou “Ipanema”