Em um segundo turno emocionante, disputado voto a voto, o anúncio de quem será o novo presidente do Uruguai não foi feito neste domingo (24).
Devido à margem apertada entre os votos dos dois candidatos, que fez desta eleição a mais disputada no país nos últimos 20 anos, a Corte Eleitoral do Uruguai afirmou que será necessário analisar os chamados “votos observados”.
Trata-se de votos de pessoas idosas, com incapacidades físicas ou outras restrições, e que, por isso, precisam de checagem especial. Assim, segundo o órgão, o “resultado final deve ser conhecido na quinta ou na sexta”.
Até 0h30 desta segunda (25), com 99,31% das urnas apuradas, o candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, liderava a contagem por 48,75% contra 47,47% do governista Daniel Martínez, 62, da Frente Ampla, uma diferença de apenas 30.581 votos —os “votos observados” somam 35 mil.
À 0h17, Lacalle Pou subiu ao palco no Bulevar Artigas, em Montevidéu, junto aos representantes dos cinco partidos, incluindo o Nacional, que o apoiaram. Aos gritos de “presidente, presidente”, disse que “o que mais queremos é uma sociedade em paz, e por isso precisamos ter paciência para esperar a contagem final dos votos, nos próximos dias”.
Se este resultado se mantiver, haverá alternância de poder no Uruguai pela primeira vez em 15 anos, com a saída da centro-esquerda e o retorno ao poder do tradicional Partido Nacional (blanco), que contou com o apoio de outras quatro legendas de oposição neste segundo turno.
Esta é a segunda tentativa de Lacalle Pou de chegar à Presidência. Ele já havia perdido, em 2014, para o atual mandatário, Tabaré Vázquez, 79.
Advogado, terá como principal desafio combater a insegurança, grande preocupação dos uruguaios, e impulsionar a economia, que ficou praticamente estagnada em 2019.
Liberal na economia, Lacalle Pou faz parte de um partido criado para defender os interesses do campo. A legenda possui uma ala progressista e outra mais conservadora, à qual pertenceu seu pai, Luis Alberto Lacalle, presidente de 1990 a 1995.
Lacalle Pou se situa um pouco mais à esquerda que o pai e afirmou que não irá rever ou pedir a revogação das leis de direitos civis aprovadas durante o governo da Frente Ampla, como o matrimônio homossexual e as leis da maconha e do aborto.
A vice em sua chapa, Beatriz Argimon, 58, é a presidente do partido e conhecida defensora de maior participação das mulheres na política. Neste domingo (24), reforçou: “Não podemos esquecer que a pobreza no Uruguai tem cara de mulher e de criança”.
Na economia, porém, fará mudanças em relação ao modo como o atual governo conduzia o país. Lacalle Pou quer abrir mais o mercado, derrubar travas protecionistas, cortar gastos do Estado com administração e colaborar com a flexibilização do Mercosul.
Já no caso de uma virada histórica, a Frente Ampla se manteria por mais cinco anos no poder.
Martínez, ex-prefeito de Montevidéu, é do Partido Socialista, ala da Frente Ampla a qual pertence Vázquez.
É conhecido por ter um perfil de gestor. Tímido, não carrega os traços de um populista. Suas propostas para a economia e para as relações internacionais são parecidas às das políticas do atual presidente.
Defende a intervenção do Estado na economia e, em relação à Venezuela, argumenta que o Uruguai siga com a posição de não ingerência, distinta da do Grupo de Lima.
Por volta das 23h30, aos gritos de “Uruguai, Uruguai” e agitando os braços, Martínez subiu ao palco montado para celebrar uma eventual vitória e disse que “é preciso esperar os resultados”.
Em seguida, valorizou que, “como ninguém esperava, vamos continuar sendo uma grande força política”. “Aceitaremos o desafio de nos mantermos unidos e de usar a inteligência.”
O dia de votação, de sol e calor na capital uruguaia, Montevidéu, foi tranquilo. Havia movimento regular nos centros eleitorais e muita gente aproveitando para passear nos parques e na rambla junto ao rio da Prata.
Após as 17h, começaram a circular carros com bandeiras dos dois partidos, com buzinaços e gente nas esquinas.
O único episódio de distúrbio em meio ao pleito foi a publicação de um vídeo de Guido Manini Ríos, um general aposentado do Exército que obteve 10% de votos no primeiro turno.
Com linguagem agressiva contra a esquerda, Manini Rios pedia a membros das Forças Armadas para não votar na Frente Ampla. Membro do partido Cabildo Abierto, ele passou a apoiar Lacalle Pou após a derrota no primeiro turno.
FOLHAPRESS