Morte de Eduardo Campos: tripulação tinha formação limitada

Piloto e copiloto possuíam experiência de voo apenas em aeronaves similares ao Cessna 560XL, cuja queda matou Eduardo Campos em 2014. Ambos careciam de treinamentos específicos para o jato, diz Cenipa

 

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão subordinado à Aeronáutica, divulgou nesta segunda-feira (26), em Brasília, um relatório preliminar sobre o acidente aéreo que levou à morte, em agosto de 2014, o então presidenciável do PSB e ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em plena disputa eleitoral. Segundo o Cenipa, tanto o piloto quanto o copiloto do jato Cessna 560XL, cuja queda também vitimou outras seis pessoas em Santos (SP), não tinham formação adequada para conduzir a aeronave.

O relatório, que ainda terá acréscimo de informações antes de sua conclusão, aponta a experiência insuficiente por parte do chefe da tripulação, Marcos Martins, e seu copiloto Geraldo Magela Barbosa. Segundo o responsável pelas investigações do Cenipa, o tenente-coronel aviador Raul de Souza, ambos haviam voado em aviões semelhantes, mas careciam de mais treinamentos específicos para a condução do Cessna.

“Para o comandante transitar de uma aeronave para outra, precisava de um treinamento de diferença. Para o copiloto transitar de uma aeronave para outra, precisava de um curso completo”, sentenciou Raul.Diversas hipóteses para a queda do Cessna surgiram tão logo o acidente ganhou o noticiário. Para o Cenipa, que sinaliza a ocorrência de falha humana, foram descartadas como possíveis causas do acidente a “colisão com a fauna” ou com qualquer outro tipo de elemento aéreo, como os chamados “Vants” (veículos aéreos não tripulados), e a hipótese de “fogo em voo”. Também foi desconsiderada a situação de “aeronave no dorso antes do impacto” – ou seja, como se o avião voasse com o teto para baixo.

“Os dados preliminares indicam que os motores funcionavam perfeitamente”, acrescentou o relatório preliminar, cujos pontos principais foram apresentados em slides à imprensa.

Tenente-coronel aviador demonstra constatações preliminares do Cenipa

Nos destroços, diz o Cenipa, foi encontrado o sistema de gravação de voz da cabine, que foi submetido no mesmo dia do acidente ao exame do Laboratório de Análise de Dados do órgão. O procedimento de leitura do material gravado, diz o departamento de investigação da Aeronáutica, foi feito “com sucesso e de acordo com os protocolos internacionais”.

 

“Foram extraídas duas horas de áudio, conforme especificação do fabricante do equipamento. O áudio recuperado não correspondia ao voo do acidente”, resumiu o trabalho do Cenipa.

Ainda segundo o órgão, a tripulação não seguiu as recomendações de carta definida para decolagem e arremetida do voo. “Ele [Marcos] não seguiu o caminho recomendado. [Para voar] com segurança, teria de seguir o perfil da carta. Isso é o recomendável”, completou Raul, garantindo que a pista da Base Aérea de Santos reúne plenas condições para o pouso do Cessna, desde que seguidos os procedimentos.

Confirmação

Embora inconclusivo, o relatório confirma boa parte das informações noticiadas, em primeira mão, em reportagem da jornalista Eliane Cantanhêde, do jornal O Estado de S. Paulo. Publicada em 16 de janeiro passado, a matéria informa que uma sequência erros do piloto Marcos Martins levou à queda Cessna. Além disso, diz o texto, a opção por atalho para acelerar os procedimentos de aterrissagem estão entre as razões da tragédia.

A reportagem revelou ainda que o “resultado decisivo” que levou à queda do avião foi a tentativa de abortar o pouso e arremetê-lo abruptamente, quando Martins teria deixado de operar os instrumentos devidos de acordo com recomendações do fabricante do Cessna.

“Essa situação, provocada pela falta de perícia do piloto, levou-o a sofrer o que é tecnicamente chamado de ‘desorientação espacial’, quando o piloto perde a noção referencial entre aeronave e solo. Ou seja, o piloto passa a ignorar a posição do avião – se está inclinado para cima ou para baixo, se suas asas estão na vertical, se está emborcado, ou mesmo se o avião simplesmente mantém a normalidade do voo”, registra a reportagem.

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