A história pode explicar o que está acontecendo no Brasil

Nos dias que vivemos, e olhando para os registros da história, verificamos que sempre o motivo para derrubar um governo, são as denuncias de corrupção e a Petrobrás sendo um dos motivos das crises.

Carlos Lacerda e seus discursos

No passado, o então governador, Carlos Lacerda da UDN, partido de direita, era o protagonista da denuncias contra o presidente, Getúlio Vargas. ” O Palácio do Catete está dento de um mar de lamas” dizia Lacerda em seus inflamados discursos. Naquele tempo vivia-se um clima politico muito parecido com o que estamos vivendo, desmoralizava-se a classe politica para encontrar qualquer solução que controlasse a nossa economia, destruindo as estradas de ferro, fomentando a industria automobilística, e permitindo as grandes petroleiras internacionais controlar o mercado brasileiro em detrimento da Petrobrás.

A corrupção no Brasil existe, porque a grande maioria do eleitorado só vota recebendo dinheiro ou vantagens, tanto faz ser rico ou pobre, o candidato tem que arranjar dinheiro com empresas para comprar votos, e quando o empresário doa o dinheiro quer ser recompensado com vantagens. Essa é uma relação incestuosa que só acabará no dia em que o povo brasileiro estiver educado. Estamos vivendo o mesmo que aconteceu em 1954 e 1964. Agora com uma diferença, temos o pré-sal, somos o maior produtor de grãos e carnes do mundo. O circo foi armado, agora resta saber o que acontecerá.

Antes de se suicidar com um tiro no peito, Getúlio Vargas (1882-1954) escreveu uma carta-testamento ainda hoje polêmica. Getúlio informa que deu cabo à própria vida em virtude de pressões de grupos internacionais e nacionais contrários ao trabalhismo – ou seja, criou sua versão das “forças ocultas” que algumas vezes leva a rupturas no poder.

O documentos, datilografado e manuscrito são é um libelo pró-nacionalismo e recendem personalismo, uma das marcas registradas do político. Getúlio se colocou, até na hora da morte, como defensor do povo e líder martirizado justamente para libertar os brasileiros. “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco”, registra a versão datilografada. No manuscrito, há um trecho com recado semelhante. “Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.”

Por que, Getúlio suicidou-se, Café Filho afastado, Jânio Quadros renunciou, Jango deposto? Todos estes ex-presidentes eram tidos como nacionalistas.

Veja a carta testamento de Getúlio Vargas:

“Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fi z-me chefe de uma revolução e venci.
Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente.
Assumi o governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Jornal de Carlos Lacerda, fazendo oposição ao presidente, Vargas

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser o meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos.
Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação.
Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com perdão. E aos que pensam que me derrotam respondo com a minha vitória.  Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo, de quem fui escravo, não mais será escravo de ninguém.

Carlos Lacerda apoiando o golpe militar de 64 – quem é o Carlos Lacerda de hoje?

Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”

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