Nova estratégia de Temer tira votos da reforma da Previdência, diz vice-presidente da Câmara

Fábio Ramalho diz que governo terá de fazer novas concessões para aprovar a reforma da Previdência e trocar ameaça por “diálogo”: “Se for a ferro e fogo, pode aumentar a resistência”

A nova estratégia do presidente Michel Temer para alcançar os 308 votos mínimos para aprovar a reforma da Previdência na Câmara enfrenta resistência no PMDB e no comando da Casa. Para o primeiro-vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), a pressão de Temer para obrigar os peemedebistas e outros aliados a votar a favor da proposta, com o fechamento de questão, pode causar efeito contrário ao pretendido: em vez de garantir votos, estimular as dissidências e a divisão das bancadas do partido e da base.

“Fechar questão não resolve. O deputado tem de ser convencido e ter liberdade para votar. Ninguém entrou na Câmara para votar contra ou a favor da reforma. O governo tem de conquistar o voto de alguma maneira”, afirma o deputado ao Congresso em Foco. “Não creio que punir, tirando cargo ou ameaçando expulsar do partido, seja o melhor caminho. A gente ganha pelo diálogo, não pela briga. Tem de saber se, fechando questão, vai ter votos de todos. O PSB fechou questão contra as duas reformas (a previdenciária e a trabalhista), e se dividiu”, acrescenta.

Segundo Ramalho, de 18 a 20 peemedebistas ainda são contrários à reforma da Previdência na Câmara. Dono da maior bancada da Casa, o PMDB tem 64 deputados. “Com conversa, podemos reduzir as dissidências no partido a cinco votos. Se for a ferro e fogo, pode aumentar a resistência”, adverte.

Ameaça de expulsão

Como mostrou o Congresso em Foco, o PMDB foi o primeiro partido a reunir assinaturas necessárias para obrigar toda a sua bancada a apoiar a reforma. Dos 64 integrantes do partido na Câmara, 34 já declararam apoio à iniciativa. As bancadas do PP (47 deputados), do PR (39 parlamentares), do PSD (37 membros) e do DEM (29 deputados) também avaliam seguir o mesmo caminho. Nesse caso, os descontentes podem ser até expulsos caso desobedeçam a orientação partidária.

Ainda assim, a situação do governo não é confortável. Mesmo se conseguir esse apoio nas seis maiores bancadas governistas, o Planalto só garante 231 votos, 77 a menos que o número mínimo necessário para mudar a Constituição.