Folha de São Paulo
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, defendeu neste domingo (27) que seja investigada a acusação de que um advogado amigo do juiz Sergio Moro intermediou negociações paralelas com a força-tarefa da Operação Lava Jato. Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht, afirmou que o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do magistrado que coordena a Lava Jato em Curitiba, propôs facilidade a ele em um acordo de delação premiada.
“Eles [força-tarefa] abririam uma investigação se fossem acusações relacionadas a qualquer outra pessoa. Precisam ser coerentes”, diz Kakay, que defende na operação clientes como os senadores peemedebistas Romero Jucá e Edison Lobão. “Sou um crítico dos excessos da Lava Jato desde o início. Os abusos podem começar a bater também em quem os comete. O veneno pode se voltar contra aqueles que cometem os excessos”, diz o criminalista.
Moro disse que a alegação de Duran é falsa. Zucolotto negou ter elo com a Lava Jato. Em nota publicada em uma rede social, Kakay diz que deve se “dar ao Moro e aos procuradores a presunção de inocência, o que este juiz e estes procuradores não fariam”. “Estão vendo”, segue ele, “o que acontece ao longo de três anos de espetacularização do direito penal”. “Como diz o poeta, ‘a vida dá, nega e tira’. Um dia os arbitrários provarão do seu próprio veneno”, afirma. “O juiz diz que não se deve dar valor à palavra de um ‘acusado’. Opa, isso é rigorosamente o que ele faz ao longo de toda a operação!”, diz, ao comentar a resposta do magistrado.
“O fato de o juiz ter entrado em contato diretamente com o advogado Zucolatto, seu padrinho de casamento, para enviar uma resposta à Folha, ou seja, combinar uma resposta para a jornalista, seria interpretado como obstrução de justiça, com prisão preventiva decretada com certeza”, afirma Kakay. Na manhã deste domingo (27), Moro divulgou nota defendendo Zucolotto e chamando o relato de Duran de “absolutamente falso”.
Anteriormente, o magistrado já tinha afirmado que o amigo é “sério e competente” e dito ser “lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira [Tacla Duran] seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça”. Segundo Moro, “nenhum dos membros do Ministério Público Federal da força-tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato não ocorreu qualquer contato”.