Dinheiro apreendido em Dourados (MS) durante a Operação Efeito Dominó
Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (15) a Operação Efeito Dominó, que investiga uma rede de doleiros e de lavagem de dinheiro utilizada por Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca. Também conhecido como o “embaixador do tráfico”, ele é apontado pela PF como o maior narcotraficante do Brasil e um dos maiores do mundo. Ao todo, oito pessoas foram presas, incluindo um delator da Operação Lava Jato.
Ao todo, foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva (sem prazo), três de prisão temporária (por 5 dias) e 18 de busca e apreensão. Noventa policiais federais cumpriram os mandados nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e São Paulo.
Entre os presos estão os doleiros Carlos Alexandre Souza Rocha, conhecido como Ceará, e Edmundo Gurgel. Ceará um dos doleiros que atuava junto ao também doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Lava Jato.
Ceará chegou a firmar um acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) no qual citava ao menos quatro senadores (leia mais abaixo). O acordo foi homologado pelo STF. Segundo a PF, ele descumpriu parte do seu acordo e voltou a atuar como doleiro.
Gurgel, por sua vez, já havia sido preso durante a Operação Farol da Colina, em 2004, e investigado no caso Banestado.
O UOL ainda não conseguiu localizar a defesa dos suspeitos.
A operação desta manhã é um desdobramento da Operação Spectrum, que prendeu Cabeça Branca em julho de 2017. Em depoimento à PF logo após ter sido preso, ele admitiu que atuava no tráfico internacional de drogas.
Após a prisão dele, a PF analisou documentos, planilhas eletrônicas, depoimentos e informações de inteligência para identificar a rede de doleiros que ele utilizava para lavar o dinheiro oriundo do comércio nacional e internacional de drogas.
Planilhas eletrônicas encontradas pela PF ao longo da investigação sobre Cabeça Branca indicam que, apenas entre 2014 e 2017, ele negociou 27 toneladas de cocaína e que ele teria recebido pelo menos US$ 138,2 milhões, o equivalente, em valores atualizados, a quase R$ 500 milhões.
Conexão com a Lava Jato
Uma das principais suspeitas apuradas pelos investigadores do caso é a de que doleiros que prestavam serviços a investigados pela Lava Jato também atuavam para narcotraficantes como Cabeça Branca.
A operação desta terça-feira faz parte de uma nova abordagem da PF em relação ao narcotráfico: sufocar o braço econômico das organizações.
As investigações conduzidas pela PF indicam a existência de uma enorme rede de doleiros que se comunicam para dar vazão à demanda de clientes que ganham dinheiro ilegal em atividades criminosas diferentes como corrupção e tráfico de drogas.
Em geral, os doleiros atuam de duas formas. Recebem reais em espécie no Brasil e disponibilizam dólares em contas no exterior ou recebem dólares no exterior e disponibilizam reais em espécie no Brasil. Todas essas operações são realizadas sem a devida comunicação às autoridades bancárias e fiscais dos países envolvidos.
Delator preso mencionou senadores em delação
Carlos Alexandre, o Ceará, firmou um acordo de delação premiada com a PGR em 2015, quando contou que atuava como entregador de valores para Youssef desde 2008.
Em seu acordo, ele mencionou ter feito repasses que seriam destinados a políticos como os senadores Aécio Neves (PSDB), Renan Calheiros (MDB), Fernando Collor de Melo (PTC-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede).
A Aécio, o delator disse ter levado R$ 300 mil a um diretor da empreiteira UTC e que havia sido informado que o repasse seria feito ao tucano. À época, Aécio classificou a declaração do delator como “absurda”.
Ceará disse em seus depoimentos ter ouvido, em 2014, que Youssef iria disponibilizar R$ 2 milhões a Renan Calheiros. O senador negou as acusações e disse que não conhecia Youssef.
O delator também afirmou ter feito a entrega de R$ 300 mil que seriam destinados a Collor. A entrega teria sido intermediada por outro funcionário de Youssef, Rafael Ângulo Lopes, que também é delator da Lava Jato. À época, Collor negou conhecer Ceará e classificou a delação dele como “oportunista” e “retardatária”.
Ainda segundo o delator, Randolfe Rodrigues havia sido beneficiado com R$ 200 mil em propina. À época, o senador negou as acusações e, em janeiro de 2016, o STF mandou arquivar a investigação que havia sido aberta contra o parlamentar.
Condenado por lavagem de dinheiro
Cabeça Branca está preso na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Em abril deste ano, ele foi condenado pela Justiça Federal do Paraná a cinco anos e dois meses de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro relacionado à compra de uma fazenda em Mato Grosso.
Esta foi a primeira condenação de Cabeça Branca desde que foi preso. Ele ainda responde a outros processos na Justiça Federal.
A PF diz acreditar que Cabeça Branca tenha comprado fazendas em Mato Grosso para servir de entreposto para a cocaína trazida da Bolívia e do Paraguai para o Brasil.
Segundo as investigações, a droga era trazida ao Brasil em pequenos aviões e descarregada nas fazendas do traficante. De lá, a droga era transportada em caminhões para a região Sudeste, de onde ela era enviada, principalmente, à Europa e América do Norte.
A polícia suspeita ainda que a compra de fazendas era apenas uma das formas encontradas por Cabeça Branca para lavar o dinheiro que ele ganhava com a venda de cocaína.
Os investigadores já foram capazes de identificar rastros da fortuna do narcotraficante em outros países além do Brasil e do Paraguai, onde ele seria o proprietário de empresas e fazendas.
O título de “embaixador do tráfico” atribuído a Cabeça Branca foi atribuído ao narcotraficante pela forma como ele se relacionava com fornecedores e compradores da droga que ele intermediava.
Em vez de um perfil violento comum a traficantes que atuam na região da fronteira entre o Brasil e o Paraguai, Cabeça Branca era conhecido pelo perfil discreto com que conduzia seus negócios.
A operação desta terça-feira foi deflagrada e centralizada em Curitiba, mas as investigações foram conduzidas pelo GISE (Grupo de Investigações Sensíveis) da PF em Londrina.