São Paulo – Apontado por delatores da Lava Jato como ‘representante’ do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) para negociar propinas no esquema de corrupção na Petrobras, o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) não soube explicar à Polícia Federal porque teve uma evolução patrimonial de R$ 300 mil em 2006 para R$ 6,8 milhões em 2010, conforme ele próprio declarou à Justiça Eleitoral.
Diversas vezes o parlamentar recorreu a uma explicação singela – ‘não me recordo’ – para valores em espécie que mantinha em sua casa e outros bens, como propriedades rurais no Tocantins. O parlamentar depôs no dia 27 de agosto. Ele foi citado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, como ‘representante’ do presidente do Senado no esquema de propinas na estatal. Aníbal Gomes negou à PF que fosse emissário de Renan.
Sobre os valores que não conseguiu explicar, afirmou apenas que pediu ao seu contador “conhecido como Tim” para “que apresentasse uma justificativa para a evolução patrimonial constatada a partir destas duas declarações (de bens de 2010 e 2014)”.
O esquecimento do parlamentar surpreendeu os investigadores. “Que, indagado da origem do valor de R$ 1.300.000,00 (um milhão e trezentos mil reais), em espécie, constantes de sua Declaração à Justiça Eleitoral de 2010, o declarante afirma que este valor decorre da venda de sua participação em uma empresa cujo nome não se recorda”, anotou a Polícia Federal no termo de declarações de Aníbal Gomes.
O suposto aliado de Renan foi indagado sobre fazendas no Estado do Tocantins listadas em sua declaração de 2010. A versão do parlamentar: “O declarante afirma que são, na verdade, lotes de aproximadamente seiscentos a oitocentos hectares; que, indagado a origem dos recursos com os quais adquiriu tais fazendas, o declarante afirma que não se recorda.”
Aníbal Gomes disse que, em época de eleição, tem o hábito de manter ‘valores em espécie’. “Indagado do motivo pelo qual possuía R$ 1.3 milhão em espécie na sua casa, em 2010, o declarante afirma que em período eleitoral costumava ter valores em espécie consigo.”
Ele negou ‘haver participado de reuniões com Renan Calheiros e Paulo Roberto Costa onde tenham sido tratados temas da Petrobras, especialmente aqueles narrados pelo ex-diretor de Abastecimento em sua delação premiada.
A PF o questionou sobre o motivo de ter visitado Paulo Roberto Costa na sede da Petrobras mais de quarenta vezes, entre maio de 2007 e dezembro de 2011. “Em sua maioria estas visitas se deram para possibilitar agendas com Paulo Roberto de empresários e pessoas que procuravam o declarante a fim de se encontrar com Paulo Roberto Costa. Que tais pessoas que procuravam o declarante se queixavam da dificuldade de falar com Paulo Roberto Costa, às vezes passando por mais de seis meses de espera.”
Ele afirmou que conheceu Renan Calheiros em 1995 ou 1996, através do irmão do senador, Olavo Calheiros. Disse que ‘não possui relação de amizade com o senador, sua relação com o senador é principalmente partidária’.
“Atualmente, Renan Calheiros já não exerce uma influência tão grande na bancada do partido na Câmara, uma vez que o partido é atualmente muito homogêneo e a liderança de Renan ocorria principalmente nas situações de disputas internas.”
Os investigadores insistiram em dados sobre os bens do deputado, inclusive a origem da quantia de R$ 1,8 milhão em espécie que constou de sua declaração à Justiça eleitoral em 2014. Ele afirmou que ‘não sabe a origem do dinheiro’. Mais uma vez indicou o contador para esclarecer. Depois, disse que ‘nunca teve tal valor consigo’.
“Que o valor que possuía efetivamente era em tomo de R$ 200 mil: Que não sabe por que consta R$ 1.805 milhão em espécie em sua Declaração de 2014 à Justiça Eleitoral; Que tal dado pode ser esclarecido por seu contador; Que neste ato se compromete a apresentar a justificativa de seu incremento patrimonial citada nas respectivas Declarações à Justiça Eleitoral, assim que o contador concluí-la.”
O peemedebista declarou que é sócio ‘de várias pessoas jurídicas’ Mas, questionado sobre o nome dessas empresas das quais se diz sócio afirmou que ‘não se recorda’.
“Não possui bens em nome de terceiros, não movimenta valores por meio de terceiros”, afirmou.
O deputado assegurou que ‘há pelo menos dois anos vive exclusivamente com os rendimentos de seu salário como deputado’.