Arquivo diários:26/04/2019

Os macabros brinquedos da Alemanha nazista

Em livro, historiador aborda brinquedos ‘politizados’ da época, como jogos em que objetivo final no tabuleiro é a ‘destruição da democracia’ ou a ‘expulsão da população judia’.
Gabriel Bonis – De Berlim para a BBC News Brasil
No tabuleiro está uma pequena cidade alemã. Há um mercado e algumas lojas de propriedade de judeus. Os jogadores assumem o papel de policiais, navegando pelas vias. Caso os dados rolem da “forma correta”, é possível invadir uma dessas propriedades, confiscar bens, prender judeus e ganhar um chapéu com uma careta. O objetivo é expulsar a população judia e enviá-la a um Sammellager(campo de coleta), de onde seriam deportados à Palestina. Quem “coletar” seis judeus primeiro, vence.

Durante a ditadura nazista (1933-1945), o macabro jogo Juden raus! (Fora judeus!) foi apenas um dos muitos brinquedos racistas comercializados na Alemanha sob o rótulo de “diversão para a família”, ajudando a propagar a ideologia fascista do regime – incluindo crimes em massa.

O 'fantoche judeu' era utilizada em apresentações de propaganda para organizações partidárias nazistas
O ‘fantoche judeu’ era utilizada em apresentações de propaganda para organizações partidárias nazistas

Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

Embora não existam fontes irrefutáveis, há quem estime que Juden raus! teria vendido mais de 1 milhão de unidades. Hoje, a Wiener Library, em Londres, que possui um dos mais extensos arquivos para estudo do Holcoausto no mundo, possui duas raras cópias do jogo. “Quem o comprou provavelmente o destruiu até o final da Segunda Guerra Mundial, mas é um indicativo de quão profunda a ideologia antissemita estava enraizada na sociedade alemã”, afirma à BBC News Brasil André Postert, do Instituto Hannah Arendt, em Dresden.

O historiador estudou os brinquedos vendidos na Alemanha nazista no livro Kinderspiel, Glücksspiel, Kriegsspiel, Große Geschichte in kleinen Dingen 1900-1945, (Jogo infantil, jogo de sorte, jogo de guerra, a Grande História em pequenas Coisas 1900-1945, em tradução livre) lançado no fim do ano passado. “Havia muitos jogos com símbolos nazistas para crianças e adultos. Em um deles, suásticas eram movidas de um campo a outro em um tabuleiro. Cada campo representava um momento importante na história do partido nazista. Quando se chega ao fim, em um campo representando o ano de 1934, o jogador havia destruído com sucesso a democracia alemã”, relata.

Brinquedos com esse perfil, diz o historiador, eram anunciados como educativos. Isso ocorria porque as crianças deveriam ser introduzidas ao Estado, suas instituições e ao partido nazista desde cedo. Logo, era comum que brincassem com bonecos/as vestidos em uniformes do regime ou da Juventude Hitlerista. Até mesmo a famosa empresa Käthe Kruse fabricou esses itens.

No jogo de tabuleiro Sakampf, de cunho antissemita, o objetivo era destruir a democracia alemã
No jogo de tabuleiro Sakampf, de cunho antissemita, o objetivo era destruir a democracia alemã

Foto: Courtesia do The Wolfsonian–FIU, Miami Beach FL / BBC News Brasil

“Após 1933, surgiu um grande número de brinquedos nazistas: cartas com rostos dos principais políticos do regime (Hitler, Goebbels, Göring, etc), soldados, tanques e representações de Hitler e sua comitiva. Um dos mais vendidos era uma Mercedes preta com Hitler e seu motorista. Podia-se comprar miniaturas de casas do Partido Nazista ou a famosa vila de Hitler, o Berghof”, conta Postert.

À medida que a indústria alemã se ocupava cada vez mais com a Segunda Guerra, a demanda por brinquedos – pelos filhos de soldados e para os tradicionais mercados de Natal – chegou a ser suprida por artigos fabricados por adolescentes ou até mesmo prisioneiros de campos de concentração.

“Quão bizarro era o simples fato de que os nazistas usaram judeus para produzir brinquedos para a Alemanha”, pontua Postert.

Industriais agiram por vontade própria

Um aspecto relevante é que as empresas não eram forçadas pelo regime de Hitler a fabricar esses brinquedos. As companhias alemãs, algumas das principais produtoras globais do setor entre os anos 1920 e 1930, apostaram no apetite do mercado para produtos politizados, embora grande parte dos industriais também apoiasse os nazistas.

O regime nazista, contudo, enxergava esse movimento com ceticismo. Existia a preocupação de que o setor criasse propaganda ruim ou causasse constrangimento à ditadura, pois muitos produtos eram vistos como “não dignos” o bastante por oficiais. Esse problema foi “resolvido” com a introdução, em 1933, da Gesetz zum Schutz der nationalen Symbole, uma lei que definia um padrão de uso de símbolos do regime.

Os brinquedos passaram a ser vistoriados antes de chegarem ao consumidor. E diversos produtos foram banidos e retirados do mercado por não atenderem a padrões do regime. “Até mesmo o jogo da suástica que mencionei teria quase certamente sido banido: os jogadores que caíssem no campo que representava o golpe fracassado de Hitler em 1923 precisariam recuar no jogo. Mas aos olhos dos nazistas aquele golpe foi um ato heroico. Então, por que recuar?”, afirma Postert.
Catálogo de "Hausser", uma das maiores empresas de soldados de brinquedo na Alemanha naquela época. O catálogo é de 1936
Catálogo de “Hausser”, uma das maiores empresas de soldados de brinquedo na Alemanha naquela época. O catálogo é de 1936

Foto: Arquivo Pessoal / BBC News Brasil

O regime também desaprovava o Juden raus! por acreditar que a “questão dos judeus” não cabia em um jogo e não deveria ser trivializada daquela maneira. O tabuleiro não continha insígnias nazistas, mas trazia um texto explicativo em tom casual e alegre, condizente com a intolerância aos judeus na época.

Máquinas de propaganda

Apesar de não estar por trás do esforços do setor de brinquedos, o Terceiro Reich usava esses produtos como mais uma parte da engrenagem de sua poderosa máquina de propaganda. “Importantes nazistas como Goebbels sabiam que a indústria de brinquedos era importante para propaganda. Ele ia publicamente a mercados durante o Natal e dava presentes a crianças”, conta o historiador.

Brinquedos e livros racistas, como o Der Giftpilz (muito usado como panfleto antissemita), existiam antes de Hitler se tornar o “Führer” da Alemanha, mas o regime os abraçou sem pudores. Entre as ferramentas de manipulação estava também o famoso boneco Kasper, usado em apresentações de palco de organizações partidárias nazistas e até para entreter soldados alemães.

No fim dos anos 1930, o Reichsinstitut für Puppenspiel (algo como Instituto Para Teatro de Fantoches) foi criado para fabricar esses bonecos e produzir roteiros de apresentações de propaganda. Entre as suas criações estava um fantoche judeu, que simbolizava todos os clichês antissemitas do regime: ou seja, conspiradores, violões e uma ameaça aos arianos.

Naquele período, muitos acreditavam que brincar tinha alguma relação com uma suposta cultura de raça. “O pesquisador Karl Haiding, por exemplo, viajou pela Escandinávia e por países de língua alemã, especialmente em regiões rurais, antes e durante a Segunda Guerra. Em pequenas aldeias, ele e sua equipe fotografaram centenas de crianças brincando com jogos tradicionais. Eles esperavam encontrar um ‘estilo de jogo ariano'”, afirma Postert.

Embora não prestemos muito atenção sobre isso, explica o historiador, brinquedos fazem parte do nosso cotidiano e refletem a sociedade e a maneira como pensamos. “Estranhamente, até brinquedos e jogos fazem parte da história do fascismo e do Holocausto.”

Fátima Bezerra: “Estamos virando a página da insegurança pública”

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), afirmou que o estado está “virando a página na insegurança pública”. A declaração da chefe do Executivo foi dada durante solenidade de formação de 133 novos sargentos nas regiões do Seridó e do Alto Oeste.

“Estamos virando a página da insegurança pública, mas temos muito a melhorar. Agora, o RN aparece como o segundo estado brasileiro que mais combateu o crime”, disse Fátima ao agradecer a atuação da polícia nesses primeiros três meses de sua gestão. Ela destacou ainda o plano estadual de segurança pública que prevê a valorização da categoria.

Em Caicó, a governadora destacou os resultados dos 100 primeiros dias alcançados na segurança pública estadual que, mesmo diante das dificuldades encontradas na gestão, teve o primeiro trimestre menos violento dos últimos cinco anos. “Por trás desses números estão vidas. Vocês tiveram papel decisivo para salvar mais de duzentas vidas. O nosso desafio é dar continuidade a esse trabalho e avançar”, disse.

De acordo com o comandante da Polícia Militar, coronel Alarico Azevedo, presente ao evento, o processo de promoção dos novos sargentos está em andamento. “A formação desses policiais é um exemplo do comprometimento. Significa que a sociedade receberá agentes de segurança mais capacitados para proteger a população, desenvolvendo ações com cidadania e dignidade”, completou. Até a próxima segunda-feira, 29, serão 383 sargentos formados nos polos de Caicó, Pau dos Ferros, Mossoró, Natal e Nova Cruz.

Pau dos Ferros

Dando continuidade à agenda pelo interior, a governadora Fátima Bezerra acompanhou a formatura do curso de formação de sargentos 2018.3 do polo Pau dos Ferros. No ato solene realizado no auditório do IFRN foram oficializadas as habilitações para promoções a sargentos de 33 cabos da polícia militar na região do Alto Oeste potiguar.

Após o descerramento da placa da turma, foi realizada uma mensagem em memória do soldado Ronaldo Rodrigues de Oliveira, a quem os concluintes homenagearam com o nome da turma. Em seguida, a governadora, acompanhada de outros militares estaduais, recebeu dos formandos uma placa em homenagem como patronesse da turma.

“O curso incontestavelmente foi de grande valia para o nosso desenvolvimento pessoal, profissional e intelectual. Agora podemos oferecer melhores serviços a uma sociedade sedenta por justiça, segurança e cidadania”, disse o orador da turma, o cabo PM José Carlos Vieira. Ele destacou também a presença da governadora na solenidade, destacando sua atuação política e pessoal em prol da educação e sociedade potiguar.

Coronel Alarico destacou a responsabilidade dos formandos: “Vocês fazem parte de uma estatística, são profissionais responsáveis pela queda no índice de criminalidade. Estamos mostrando como é possível trabalhar com comprometimento, dedicação e esforço.”

O curso de Formação de Sargentos teve duração de quatro meses totalizando 720 horas/aulas, com disciplinas de tiro policial, gerenciamento de crises, abordagem policial, capacitação em policiamento comunitário e direitos humanos. Os policiais receberam seus distintivos e certificados de conclusão do curso que os habilitam à promoção na carreira militar.

Estudante com isenção negada no Enem ainda pode entrar com recurso

Estudantes que tiveram o pedido de isenção da taxa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) negado têm até hoje (26) para entrar com recurso pela internet, no Sistema Enem. Os resultados dos recursos serão divulgados no dia 2 de maio.

Para a solicitação de recurso, o participante deverá enviar documentação específica, prevista no edital do exame. Serão aceitos somente documentos nos formatos PDF, PNG ou JPG, com o tamanho máximo de 2MB.

Aqueles que não obtiveram a isenção por ter tido recusada a justificativa de ausência no Enem 2018, deverão apresentar documentos diferentes dos anexados durante o período de justificativa. A relação dos documentos aceitos está também disponível no edital.

Ao todo, 3.687.527 estudantes solicitaram a isenção da taxa de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O prazo para pedir a isenção da taxa do Enem e para justificar a ausência no exame do ano passado e pedir uma nova isenção terminou no último dia 10.

A taxa de inscrição deste ano é de R$ 85. O resultado está disponível desde o dia 17 na Página do Participante. Para consultar o resultado, é necessário informar o CPF e a senha criada na hora de fazer a solicitação.

Para participar do exame, os estudantes – com ou sem isenção da taxa – devem fazer a inscrição no período de 6 a 17 de maio.

Estudantes isentos

Têm direito à isenção da taxa os estudantes que estão cursando a última série do ensino médio em 2019, em escola da rede pública; aqueles que cursaram todo o ensino médio em escola da rede pública ou como bolsista integral na rede privada, com renda, por pessoa, igual ou menor que um salário mínimo e meio, o que, em valores de 2019, equivale a R$ 1.497.

São também isentos os participantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ou seja, membros de família de baixa renda com Número de Identificação Social (NIS), único e válido, com renda familiar por pessoa de até meio salário mínimo (R$ 499), ou renda familiar mensal de até três salários mínimos (R$ 2.994).

Enem 2019

O Enem será aplicado nos dias 3 e 10 de novembro. As notas do exame podem ser usadas para ingressar em instituição pública pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para obter bolsas de estudo em instituições particulares de ensino superior pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para obter financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Ditadura matou “poucas pessoas”, diz Mourão

Imagem: Mauro Pimentel/AFP

O general e vice-presidente da República Hamilton Mourão (PRTB) afirmou em entrevista ao jornal francês Le Monde que a ditadura militar que vigorou no Brasil por mais de vinte anos “matou muito poucas pessoas”.

Em outra declaração ao jornal, Mourão repetiu o argumento de entusiastas do regime de que os militares impediram o “Brasil de ter caído na ditadura do proletariado”.

Na reportagem, Mourão também comentou os recentes atritos com parte da ala bolsonarista, incluindo um dos filhos do presidente Jair (PSL), Carlos Bolsonaro (PSC).

“Carlos não me conhece, ele nunca sentou comigo para conversar (…) Jair Bolsonaro tem seu estilo, um estilo particular, uma maneira de se comunicar que algumas pessoas não gostam. Mas eu não tenho um papel importante, sou um auxiliar”, disse Mourão.

Além do filho do meio de Bolsonaro, Mourão está submerso em uma série de desavenças com o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, o qual já classificou o vice-presidente de “inimigo e competidor” do presidente. Questionado pela reportagem do jornal francês se seria um contraponto ao governo, Mourão disse que isso “seria antiético e desleal”.

Em relação aos entraves que o governo tem enfrentado em pouco mais de 100 dias de gestão, Mourão amenizou os questionamentos. “A situação não é assim negativa. São problemas, é verdade, mas a maioria das pessoas que critica Bolsonaro não se dá conta que ele teve problemas de saúde seríssimos. Essas coisas ligadas ao Twitter, a seus filhos, são de menor importância, fazem parte da aclimatação do governo.”

Na abertura da reportagem, o jornal traz à tona uma “atmosfera estranha” que ronda os palácios de Brasília e reforça uma pecha de “traidor” atribuída ao general. O termo foi utilizado várias vezes pelo deputado Marco Feliciano (PODE), defensor de Bolsonaro, e que entrou com um malsucedido pedido de impeachment contra o vice-presidente.

“Desde o dia anterior o general Mourão, 65 anos, tornou-se para alguns dos ‘bolsonaristas’ mais radicais um traidor no poder.”, escreveu a correspondente e autora da reportagem, Claire Gatinois.

434 mortos, genocídio indígena e milhares de torturados

A fala de Mourão sobre a ditadura militar diverge dos dados oficiais disponíveis sobre o regime. De acordo com a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão vinculado ao Ministério Público Federal, 434 pessoas foram assassinadas ou desapareceram compulsoriamente.

O regime também foi responsável por um genocídio dos povos indígenas do país: mais de 8 mil foram assassinados pelos militares. O MPF informa ainda que entre 30 e 50 mil pessoas foram presas ilegalmente e torturadas durante a ditadura.

A PFDC esclarece ainda que as políticas de execução sumária, tortura, desaparecimento forçado e genocídio dos povos indígenas não foram pontuais ou desenvolvidas paralelamente, e sim políticas institucionalizadas pelo Estado.

“Não foram excessos ou abusos cometidos por alguns insubordinados, mas sim uma política de governo, decidida nos mais altos escalões militares, inclusive com a participação dos presidentes da República”, diz uma nota do MPF sobre o golpe militar.

UOL