SÃO PAULO – O procurador e coordenador da força-tarefa da Lava-jato, Deltan Dallagnol, criticou nesta quarta-feira em entrevista à rádio CBN, os três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que decidiram retirar de Curitiba e transferir para a Justiça Federal em Brasília novos trechos de depoimentos da Odebrecht que citam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo ele, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski formam uma “panelinha” no Supremo, que sempre retira os processos referentes à Lava-Jato de Curitiba e, assim, enviam uma mensagem de tolerância com a corrupção. “É triste ver que os mesmos três do STF tiram tudo de Curitiba e mandam tudo para a Justiça Eleitoral. Eles mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção. Não estou dizendo que eles estão mal- intencionados, mas, objetivamente, a mensagem é de leniência”, afirmou o procurador.
Na terça-feira, por 3 votos a 1, os três ministros, pertencentes à segunda turma do STF, decidiram retirar da competência do juiz federal de Curitiba Sergio Moro trechos de delações premiadas da Odebrecht que acusam Lula. Parte dos autos seguirá para a Justiça Eleitoral do DF. Foi voto vencido o relator da Lava-Jato na Corte, ministro Edson Fachin.
Para Dallagnol, a decisão não chega a enfraquecer a operação, mas “gera tumulto”. “Esses três de novo querem mandar para a Justiça Eleitoral como se não tivesse indicativo de crime? Isso para mim é descabido”, criticou.
Segundo o procurador, o STF tomou a decisão analisando “parte da realidade”. “Quando se faz acordo, o réu, por exemplo, relata mais de cem fatos. Cada fato está num documento separado e o Supremo não vai ver tudo a menos que [o réu] tenha foro privilegiado, ele vai distribuir pelo país. Só que ele não tem condições de fazer uma análise aprofundada de qual é o juiz responsável. Não sabe se tem investigação relacionada ao fato em outro lugar”, disse.
Em relação a outra decisão do Supremo tomada ontem, de que uma denúncia baseada apenas em delação premiada não pode ser recebida, o coordenador da Lava-jato afirmou que, de modo geral, a força-tarefa “jamais” busca uma acusação criminal apenas com base na palavra de um colaborador. “É somente o ponto de partida”, destacou.
Questionado sobre delações que depois não tiveram efeito, Dallagnol criticou o encerramento precoce de algumas investigações. “É normal numa delação ter 100, 200 fatos criminosos. Tem uma parte que não vai conseguir provas. São crimes sofisticados. O que não pode acontecer é o encerramento precoce de algumas investigações, como tem acontecido no Supremo. O Judiciário tem colocado uma pedra sobre investigações ainda não encerradas. A meu ver é algo que beneficia quem está sendo investigado”, afirmou o procurador.