Professor censurado já foi atacado por Bolsonaro e teve pesquisa boicotada

Na ocasião, o apresentador do programa questiona o professor sobre como pegou covid-19 e na sequência corta a fala do docente. O deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS), responsável pelo processo junto à Controladoria-Geral da União (CGU) que culminou no TAC, diz que “se ele não conseguiu salvar ele, vai conseguir salvar quem?”
Jair Bolsonaro utilizou suas redes sociais no dia 14 de janeiro para expor um vídeo editado da entrevista. “Reitor da Universidade de Pelotas. Simplesmente assista”, disse o presidente.

 

“[Foi] um ataque orquestrado à minha pessoa por um deputado e pelos jornalistas. O deputado falou antes, durante e depois da minha participação. Fui interrompido em minha fala inúmeras vezes. Um exemplo de como não fazer jornalismo isento”, disse o professor ao Congresso em Foco.
O site tentou contato com o deputado Bibo Nunes, mas não teve retorno.

Naquela altura, Manaus sofria com a maior crise desde o início da pandemia, onde mesmo com falta de oxigênio, o Ministério da Saúde se limitou a investir na distribuição do chamado “kit-covid”, com medicamentos sem comprovação científica contra a doença. A pasta também aproveitou o momento para o lançamento do Tratecov, aplicativo que sugeria a profissionais da saúde a indicação de medicamentos como cloroquina e azitromicina, ambos sem indicação para o novo coronavírus. Após críticas da imprensa e de especialistas, o governo tirou o aplicativo do ar alegando que o sistema havia sido “invadido e ativado indevidamente”.

Pedro Hallal diz ainda que a Epicovid, pesquisa que tinha como objetivo estimar quantos brasileiros já foram infectados pelo novo coronavírus, auxiliando no planejamento do combate à doença, sofreu com o corte do governo federal no financiamento da pesquisa, além da censura de dados sobre os indígenas. A pesquisa mostrava que povos originários brasileiros apresentam risco maior de infecção por covid-19.

Matéria da Folha de S. Paulo de maio do ano passado mostra que as equipes que coletavam testes para o estudo foram detidas e agredidas.”Em vários municípios, o material de testes foi destruído e as equipes do estudo tiveram de abandonar a cidade e desistir da pesquisa”, diz a reportagem de Vinicius Torres Freire.

O contrato entre o Ministério da Saúde e a Universidade previa três fases, entregues para a pasta em julho do ano passado. Alguns dos dados levantados pelos cientistas indicavam, por exemplo, que havia subnotificação de casos. Pessoas mais pobres tinham mais infecções que os mais ricos e que a pandemia variava de acordo com a região do país.

A pesquisa entrevistou quase 90 mil pessoas em 133 municípios, mas o Ministério não demonstrou interesse em avançar com o estudo. Na época, a pasta afirmou que daria continuidade “a estudos de inquérito epidemiológico de prevalência de soropositividade na população”.

Sem recursos do governo federal, a UFPel buscou auxílio junto à iniciativa privada e com outras instituições de fomento. “Conseguimos financiamento com o Todos Pela Saúde e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O Epicovid nunca parou, só mudou a fonte de financiamento”, diz o professor. Ao todo já foram realizadas cinco fases da pesquisa.

Essas não foram as únicas dificuldades enfrentadas pela equipe de Pedro Hallal. Segundo o professor, ele chegou a receber ameaças que estão sendo investigadas pela Polícia Federal. Ele não pode comentar sobre o caso, pois tramita em sigilo.

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