Afastada da presidência, Dilma Rousseff convoca brasileiros a resistir

AFP

Brasília, 12 Mai 2016 (AFP) – Afastada da presidência do Brasil nesta quinta-feira, uma desafiadora Dilma Rousseff convocou a população a se mobilizar para resistir ao “golpe” orquestrado contra ela e defender a democracia.

Dilma, primeira mulher presidente do Brasil, foi substituída na presidência por seu vice Michel Temer depois que o Senado decidiu submetê-la a um julgamento de impeachment por 55 votos contra 22 em uma sessão que durou quase um dia inteiro.

“A população saberá dizer não ao golpe (…) Aos brasileiros que se opõem ao golpe, independente de posições partidárias, faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz”, disse a ex-guerrilheira de 68 anos diante de dezenas de jornalistas e funcionários no Palácio do Planalto.

“A luta pela democracia não tem data para terminar. É luta permanente que exige de nós dedicação constante”, afirmou.

A presidente posteriormente saiu do Palácio do Planalto e repetiu seu discurso ao ar livre diante de 500 simpatizantes de movimentos sociais, indígenas, homossexuais e representantes de minorias que seguravam balões vermelhos, a encorajavam ao grito de “Resistiremos!” e gritavam “Fora Temer!”. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, estava ao seu lado.

Dilma é acusada de “crime de responsabilidade” por cobrir déficits orçamentários e abastecer os cofres com empréstimos de bancos estatais durante a campanha de reeleição em 2014.

A presidente afirma, no entanto, que é vítima de um “golpe moderno” liderado pelo “traidor” Temer e pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por obstruir investigações de corrupção contra ele. Ambos pertencem ao PMDB.

“Farsa política e jurídica””Sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da injustiça. O que mais me dói neste momento é perceber que sou vítima de uma farsa política e jurídica”, declarou.

“O que está em jogo no processo de impeachment não é apenas meu mandato. Está em jogo o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição. O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos, os ganhos das pessoas mais pobres e da classe média”, acrescentou em referência aos programas sociais impulsionados pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que nesta quinta-feira se despede de mais de 13 anos no poder.

Ela é afastada do cargo com apenas 10% de popularidade, segundo as pesquisas recentes, em meio a uma grave recessão econômica e a um escândalo de corrupção que atingiu vários políticos. E não poderá participar da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em agosto.

Para destitui-la definitivamente, a oposição precisa de dois terços dos votos do Senado (54 de um total de 81 membros) ao final do julgamento político. Um a menos que os os 55 registrados nesta quinta-feira, o que torna pouco provável seu retorno ao poder.

Grande parte de seu desgaste foi provocado pelo grande escândalo de corrupção descoberto há dois anos na Petrobras, envolvendo vários políticos do PT e aliados de seu governo, assim como poderosos empresários.

Dilma não é alvo de nenhuma investigação ou acusação de corrupção. Mas tanto aliados como opositores, muitos deles congressistas que votaram no processo de impeachment, são investigados ou acusados no grande escândalo que provocou perdas de mais de dois bilhões de dólares.

Um total de 61% dos brasileiros são a favor do impeachment de Dilma, mas o processo é questionado porque o Congresso carece de credibilidade: vários deputados e senadores foram condenados ou são acusados de ter cometido crimes em algum momento.

Dia de glória para TemerOs brasileiros acompanharam os debates no Congresso. Em alguns pontos da cidade de São Paulo, moradores celebraram a queda de Dilma Rousseff.

Os mercados apostam que Temer pode mudar o rumo da economia do país. Mas o vice que assume agora a presidência também registra uma popularidade reduzida e enfrenta enormes desafios, quase os mesmos de Dilma Rousseff.

Temer deve anunciar nesta quinta-feira quase todos os seus ministros.

Dilma Rousseff deixará o Palácio do Planalto nas próximas horas e seguirá para o Palácio do Alvorada, a residência oficial, onde vai preparar sua defesa.

Durante o afastamento, ela vai manter o salário integral e terá direito a atendimento médico, segurança pessoal, transporte aéreo e terrestre, assim como uma equipe de funcionários para seu gabinete pessoal.