Do UOL, em São Paulo
O ex-procurador da Lava Jato Marcelo Miller integrou o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR (Procuradoria-Geral da República) entre 2014 e 2016, quando trabalhou como assessor e braço direito do procurador-geral, Rodrigo Janot.
Após deixar a PGR, Miller foi contratado, em maio deste ano, pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a J&F durante parte das negociações do acordo com o MPF. Um mês depois de entrar para o escritório de advocacia, Miller deixou a sociedade.
A trajetória profissional de Miller agora serve como pano de fundo para uma suspeita levantada por sua antiga empregadora. Em pronunciamento no início da noite desta segunda-feira, Janot citou seu ex-braço direito como um dos suspeitos de praticar atos ilícitos flagrados em áudios entregues pelos delatores da JBS à PGR na quinta-feira (31) à PGR.
A suspeita sobre Miller é de que ele poderia ter atuado em favor da JBS enquanto ainda estava na Procuradoria. Um dos quatro áudios contém uma conversa entre Joesley Batista e um dos executivos e delatores da JBS, Ricardo Saud, e traz, segundo a Procuradoria, “elementos que necessitam ser esclarecidos”.
“Exemplo disso é o diálogo no qual falam sobre suposta atuação do então procurador da República Marcello Miller, dando a entender que ele estaria auxiliando na confecção de propostas de colaboração para serem fechadas com a Procuradoria-Geral da República. Tal conduta configuraria, em tese, crime e ato de improbidade administrativa”, diz texto divulgado pela PGR.
“Os áudios sugerem atos ilícios graves na Procuradoria e no Supremo Tribunal Federal”, disse Janot, citando Miller, mas sem mencionar quais seriam os problemas no Supremo. “Se meu ex-colega praticou algum ato ilícito, não interfere nas denúncias que eu pretendo oferecer ou não.” Janot disse que o conteúdo dos áudios é “gravíssimo” e que a análise da gravação revelou diálogo entre dois colaboradores com referências indevidas à PGR e ao STF (Supremo Tribunal Federal).”
No fim de junho, em pronunciamento após ser denunciado por Janot, o presidente Michel Temer (PMDB) citou o ex-procurador e sugeriu que Miller intermediou acordo “benevolente” entre a PGR e a JBS. Temer disse que “um assessor muito próximo ao procurador-geral da República [Janot], senhor Marcelo Miller, homem de sua mais estrita confiança” abandonou o MPF para “trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral”. O presidente disse ainda que Miller “ganhou milhões em poucos meses”, garantindo “ao seu novo patrão um acordo benevolente, uma delação que o tira das garras de Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista”.
Após as acusações de Temer, Miller afirmou que “não cometeu nenhum ato irregular” desde que deixou a PGR.
O TED (Tribunal de Ética e Disciplina) da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) abriu no fim de junho um processo de apuração formal para avaliar a conduta do ex-procurador. O ex-procurador também é alvo de um procedimento preparatório (PP) na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF). O PP, que é a etapa anterior à instauração formação de inquérito ou arquivamento do caso, foi aberto após uma representação feita na procuradoria.
No fim de junho, Miller se manisfestou para afirmar que “não cometeu nenhum ato irregular” desde que deixou a PGR (Procuradoria-Geral da República). O advogado não foi localizado nesta segunda-feira para comentar o pronunciamento de Janot.
Na época, a PGR afirmou em nota que Miller não participou das negociações do acordo de delação premiada dos executivos do Grupo J&F. “Ele integrou a Assessoria Criminal do procurador-geral da República de setembro de 2013 a maio de 2015. De maio de 2015 a julho de 2016, foi designado para integrar o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR, em Brasília. A partir de 4 de julho de 2016, ele voltou a ser lotado na PR/RJ, com processos distribuídos ao seu ofício, atuando junto ao grupo de trabalho somente como membro colaborador. Ele solicitou exoneração do cargo de procurador em 23 de fevereiro de 2017, a qual foi efetivada em 5 de abril de 2017”, diz o texto da procuradoria emitido em junho.
(Com informações do Estadão Conteúdo)