Por Ítalo Nogueira | Folhapress
RIO DE JANEIRO – Luiz Carlos Velloso, Marco Antônio de Luca, Miguel Iskin, Wagner Jordão e Álvaro Novis, presos da Lava-Jato no Rio, estavam sentados no ônibus da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) aguardando transferência do Complexo Penitenciário de Bangu para a cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, quando um novo detento se juntou ao grupo.
Identificando-se como “Catatau de Gardênia Azul”, ele deu um urro de saudação para os presidiários do outro lado da tela de metal que dividia o ônibus em grupos de seis.
“Quem é que tá aí?”, perguntou um dos detentos para “Catatau”. “São os coroas gente boa da Lava-Jato”, respondeu ele. “Bando de filha da puta! É por causa deles que eu roubei e estou aqui!”, retrucou um deles. Por todo o trajeto, os detentos da Lava-Jato foram ouvindo ofensas.
O contratempo foi um dos momentos de tensão vividos pelos presos no sistema penitenciário do Rio.
A passagem do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e seus supostos comparsas por Bangu foi repleta de suspeitas de regalias. Imagens do circuito interno mostravam livre trânsito deles pela unidade. Para o Ministério Público Federal, os benefícios cessaram em Benfica.
Ainda assim, a vida dentro do sistema para alguns não foi fácil. Um dos que mais sofreram foi Miguel Iskin, preso três dias após uma cirurgia no fêmur. O empresário, acusado de superfaturar equipamentos médicos, tinha dificuldades para realizar movimentos simples, como sentar-se ou trocar de roupa.
Iskin encontrou no empresário Eike Batista uma espécie de escudeiro. O fundador do grupo X passou a auxiliá-lo nas tarefas básicas diárias, como se vestir.
Eike, atualmente em prisão domiciliar, passou a dividir cela com Iskin em Bangu após deixar o espaço que dividia com Wagner Jordão Garcia. Pediu para trocar de cela temendo ser “contaminado” pela depressão profunda do ex-assessor da Secretaria de Obras, responsável por recolher a propina da pasta.
Em Bangu, Eike também teve outras surpresas. Era frequente chegar a ele cartas de amor de presas desconhecidas do presídio feminino Nelson Hungria.
Unha encravada
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