Projetada para servir como um espaço de turismo e eventos religiosos, uma obra do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) inaugurada há 11 anos em Natal (RN) virou pista de skate improvisada, após ser depredada e abandonada pelo Estado.
O Presépio de Natal, como foi batizada, tem as principais marcas da arquitetura de Niemeyer, com curvas e concreto, e custou R$ 1,2 milhão com recursos do governo do Estado. Atualmente, está pichada e depredada. O Estado prometeu reformar o espaço há um ano, mas o projeto não saiu do papel.
A estrutura fica localizada em uma das áreas mais valorizadas da capital potiguar e está bem em frente à Arena das Dunas, estádio construído para a Copa de 2014. O complexo do Presépio tem 10 mil metros quadrados e, quando foi entregue, tinha previsão de abrigar seis lojas, uma lanchonete, área administrativa, dois banheiros públicos, praça, estacionamento e jardim.
Hoje, só restam as paredes e o piso. Todas as portas, louça sanitária, iluminação e demais instalações foram arrancadas e furtadas. Ao ser inaugurada, a área chegou a sediar cinco feiras de artesanato, mas nunca teve uma rotina administrativa. As lojas e lanchonete nem sequer chegaram a funcionar.
“Não sabemos o motivo de a obra nunca ter sido usada como devido, nem porque deixaram a estrutura ser depredada. Niemeyer gostava muito do projeto”, afirma Jair Valera, diretor técnico do escritório Oscar Niemeyer. Valera esteve em Natal em junho de 2016 para visitar o local e analisar a viabilidade de uma reestruturação.
A ideia anunciada pelo governo do Estado é transformar o Presépio em uma praça de esportes, voltada para a prática da patinação e skate –já que o local tem sido usado, de modo improvisado, para esse fim. Mas, até agora, nenhum trabalho foi iniciado.
Todos os dias, no final da tarde, dezenas de pessoas ocupam o vão central da praça para praticar patinação e skate. Parte da estrutura projetada por Niemeyer, inclusive, serve de rampa para manobras dos skatistas.
“A gente não tem outros espaços para praticar skate. Por isso começamos a ocupar essa área”, conta Neilton Júnior, 29, que há cinco meses frequenta a estrutura pelo menos duas vezes por semana. Ele ficou surpreso ao saber que se tratava de um projeto de Niemeyer. “Sério? Não sabia disso. E como deixaram o local tão abandonado?”
O grupo de skatistas já fez adaptações para facilitar as manobras. Com dinheiro arrecadado em uma vaquinha, o grupo instalou rampas e obstáculos de concreto e ferro no espaço. “Cada um ajuda como pode. A gente combina tudo no grupo de WhatsApp”, explica David Willian, 16. O grupo “Rolê de Skate” reúne mais de 50 integrantes.
O movimento já atraiu grupos que alugam patins e skates. “A gente limpa a área e cuida da iluminação. Não há qualquer investimento público por aqui. Espero que a reforma saia mesmo do papel”, diz Maria Claudia Alves, 42, que aluga os equipamentos.