Foto de campanha da eleição para Presidente da República do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de janeiro Leonel Brizola.
O líder trabalhista disputou a eleição para Presidente da República em 1989 ficando em terceira colocação.
O eleitorado Brasileiro rejeitou Brizola, Mário Covas, Ulisses Guimarães e elegeu Fernando Collor e Lula para disputarem à Presidência da República no segundo turno, de lá para cá, os brasileiros conhecem toda história.
1º turno
Nesta entrevista publicada em abril de 1989, quando a corrida eleitoral ao Palácio do Planalto ainda estava morna, com diversos partidos ainda decidindo quem seriam seus candidatos, Fernando Collor já esbanjava confiança. Apesar de liderar as pesquisas de opinião naquele momento, ainda não havia cristalizado o arco de alianças políticas, econômicas e sociais que possibilitariam sua eleição. Ainda assim, afirmava, categórico, que seria o próximo presidente da República
Lula – “Com Quércia, o PMDB cresce”
Em abril de 1989 Lula estava muito mais próximo do líder sindicalista que parou o ABC paulista no fim dos anos 70 do que do presidente da República popular que se tornaria pouco mais de uma decáda depois. Nesta entrevista publicada no dia 12 de abril de 89, o presidente do PT se mostra um candidato ainda atrelado a conceitos ideológicos estanques, apesar de reforçar a todo momento que, eleito, não pretende se tornar uma espécie de ditador socialista à brasileira. Neste momento, quase sete meses antes das eleições, Lula parece não enxergar a força de Collor, ou ao menos procura não transparecer preoucupação com a figura salvadora criada em torno do ex-governador de Alagoas, que meses antes recebera o título de “O Caçador de Marajás”.
Leonel Brizola – Brizola vai pela sombra
No começo de julho de 1989, quando esta reportagem foi publicada, Leonel Brizola estava certo de que iria disputar o segundo turno com Fernando Collor de Mello. O velho caudilho era o segundo nas pesquisas de opinião e via, de longe, Lula brigando para estar entre os principais candidatos daquela eleição. O alvo preferencial de Brizola, naquele momento, era Collor, a quem havia atacado vigorosamente no primeiro dos inúmeros – e históricos – debates daquela eleição.
Mário Covas – Contra todos e ninguém
O ex-governador de São Paulo Mário Covas era o nome de consenso dentro do PSDB para assumir o posto de candidato à Presidência da República em 1989. Depois de desempenhar papel de destaque na Constituinte e de liderar a debandada do PMDB para a criação do PSDB, ele se apresentava como uma espécie de conciliador nacional, o nome que “não estava contra ninguém”, mas que se propunha a apresentar “algo concreto” para a criação do novo Brasil que recém entrava no período de redemocratização. Tudo lindo, não fosse o fato de que sua candidatura não decolava nas pesquisas.
Paulo Maluf – Agora em nova embalagem
Paulo Maluf chegou às eleições presidênciais de 1989 tentando provar ser um novo homem. Nos quatro anos anteriores o eterno candidato do PDS havia sofrido três duras derrotas consecutivas. A primeira no Congresso Nacional, quando foi preterido na eleição indireta para presdidente por Tancredo Neves, que acabou vencendo, mas não assumindo em decorrência de sua morte. Depois, em 86, no ano seguinte, disputou o governo de São Paulo e tornou a ser derrotado, desta vez por Orestes Quércia. A terceira e mais humilhante derrota havia sido em 1988, quando Eluiza Erundina, então no PT, derrotou o ex-prefeito biônico de São Paulo na disputa pelo comando da capital paulista. Nesta reportagem e entrevista publicadas no final de agosto de 1989, Maluf tenta, uma vez mais, reconstruir sua imagem.
Guilherme Afif Domingos – “Precisamos de um novo JK”
Ainda no começo da corrida eleitoral de 1989, Guilherme Afif Domingos se apresentou como o “empresário do bem”. Um representante da elite, sem dúvida, mas, segundo seu discurso, cheio de vontade para atacar um dos grandes problemas do Brasil até hoje: a má distribuição de renda. À frente do Partido Liberal, entrou na briga pra valer. Atacou, logo de cara, a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (“uma estrutura que mama nas tetas do governo”) e bateu forte em Brizola (“é o que de mais conservador e anacrônico existe por aí”). Nesta entrevista, afirmou com todas as letras que o caminho para o crescimento justo do Brasil passaria pelo desenvolvimento da agricultura e disse que a divisão entre esquerda e direita estava apenas na cabeça da elite.
Ulysses Guimarães – A aposta de Ulysses
Ulysses Guimarães chegou às eleições de 1989 sem o mesmo prestígio que conquistara ao longo da bela, porém derrotada, campanha pelas eleições diretas para presidente de cinco anos antes. Após ver a emenda Dante de Oliveira ser derrotada no Congresso Nacional, Ulysses se transformou em uma espécie de símbolo maior das lutas pela redemocratização plena do país naquela segunda metade dos anos 80. Mas, já quase na virada da década, a proximidade excessiva com José Sarney e suas políticas econômicas desastrosas e a costumeira dificuldade em unir o PMDB lhe cobrariam um preço alto. Chegou ao final da campanha sem apoio, quase desacreditado por seus pares. Ainda assim, conquistou mais de três milhões de votos e terminou como o sétimo candidato a presidente mais votado. Esta reportagem, publicada no fim de junho de 1989, conta o momento crítico da campanha de Ulysses e como ele acreditava que seria possível reverter o fracasso que se anunciava.
Roberto Freire – A China é muito longe
Comunista comedor de criancinhas? Essa era a imagem que Roberto Freire menos queria passar para seus eleitores. Como primeiro candidato do Partido Comunista Brasileiro (PCB) à Presidência do Brasil desde 1945, ele tentava mostrar que, em 1989, as propostas de seu agrupamento político estavam a anos-luz de distância do movimento repressor tão presente na China comunista da época. Freire também se mostrava disposto a fazer possíveis alianças com PT, PDT e até PSDB, já prevendo que sua candidatura teria poucas chances de chegar ao segundo turno. Nesta entrevista, o líder comunista aborda temas que permanecem atuais hoje, como os direitos dos homossexuais, a descriminalização das drogas e do aborto. “Queremos uma definição concreta de que a mulher deve ser dona do seu corpo”, afirmou.
Ronaldo Caiado – Diabo, Satanás, Cão, Estado…
Privatização, meritocracia, livre iniciativa… o discurso parece familiar? Na campanha presidencial de 1989, Ronaldo Caiado, do PSD, era o candidato que apresentava com mais afinco esses ideais liberais. Ex-líder da União Democrática Ruralista, poderosa instituição que representava os interesses dos grandes produtores do campo, o médico Caiado dizia não ser de direita, mas um democrata, e defendia a presença do Estado apenas em setores considerados estratégicos, como habitação, saúde e segurança. Para todos os efeitos, na campanha, Caiado era um “nanico”, mas cujas ideias encontram, até hoje, muitos apoiadores. “Não podemos confundir defesa de livre iniciativa nem defesa de terra produtiva como sendo radical de direita”, disse.
2º turno
Lula – Espantando os demônios
Lula concedeu esta entrevista à Istoé na semana seguinte às eleições presidenciais no 1º turno. Era final de novembro e naquele momento as negociações partidárias para conquistar apoios para o 2º turno estavam frenéticas. Lá, como cá, o PMDB tinha imensa importância não só na busca pelos votos, como também na composição da bancada parlamentar que garantiria a governabilidade do presidente da República. Após um primeiro turno sangrento, em que foi vítima de uma série de acusações que se mostrariam falaciosas pouco mais de uma década depois, Lula buscava nessa entrevista desmistificar a figura de comunista revolucionário criada por seus adversários.
Leonel Brizola – Lula, o flexível
Derrotado no primeiro turno das eleições presidenciais de 1989, Leonel Brizola não demorou a dar um apoio natural a Lula na sequência da corrida para a Presidência. Apoio de peso. Na visão de Brizola, o candidato do PT representava a única possibilidade real de uma nova política no Brasil, conduzida por um candidato saído do povo, das frentes de trabalho e da luta sindical. Nesta entrevista, concedida em dezembro de 1989, pouco antes do pleito de decisivo, o líder do PDT faz elogios abertos à capacidade de Lula para negociar, mas mostra sérias ressalvas em relação ao vice do petista, João Paulo Bisol: “Ele não é uma pessoa confiável, vamos ter de trazê-lo de rédea muito curta”, disse Brizola.
Fernando Collor de Mello: Dispensando alianças
Depois de um primeiro turno em que superou a descrença e a gozação dos adversários, que o viam como um político de segundo escalão saído de um Estado de menor expressão (Alagoas), Fernando Collor chega ao segundo turno com força renovada. Nesta entrevista, publicada em novembro de 1989, o candidato do PRN ataca Lula, do PT, e diz que não abriria mão de nenhum ponto de seu programa de governo em troca de alianças que poderiam ajudá-lo a alcançar os 51% de votos válidos.