Josias de Souza
Os primeiros movimentos da sucessão presidencial revelam que nada de mal acontece ao Brasil que não seja esplêndido perto do que está por vir. Diante da frustração da reforma política, os pretendentes ao Planalto se equipam para uma nova disputa regida por velhas regras. O principal trunfo da campanha continua sendo o tempo de propaganda na tevê e no rádio. Para obter vitrines eletrônicas espaçosas, os presidenciáveis se movem como grandes compositores —compõem com todo mundo. Cortejam longe dos refletores partidos fisiológicos e lavajatistas.
Geraldo Alckmin, João Doria e Henrique Meirelles flertam com legendas do chamado centrão, agrupamento que reúne o que há de mais arcaico na política nacional. Por exemplo: PP, PR, PTB, SD e PRB. Ciro Gomes, hoje no PDT, gostaria de arrastar para dentro de sua futura coligação o PT, cuja passagem pelo poder federal produziu o mensalão e o petrolão. O petismo leva o pé atrás. E aguarda por uma definição de Lula. Embora esteja mais perto da cadeia do que da urna, o pajé do PT ainda não liberou seu partido para empinar um Plano B.
Sócio do PT no surto de corrupção que mergulhou o Brasil numa crise moral sem precedentes, o PMDB paira sobre todas as pré-candidaturas como peça central no quebra-cabeça das coligações. Crivado de investigações, o partido de Michel Temer ambiciona comparecer à próxima sucessão com um candidato próprio. Como não dispõe de nomes, cogita fisgar alguém noutra legenda.
Uma ala do PMDB gostaria de atrair o neotucano Doria, que mede forças com Alckmin pela vaga de presidenciável do PSDB. Nessa equação, o DEM, parceiro tradicional do tucanato, trocaria Alckmin por Doria. Outra ala do partido de Michel Temer passou a cultivar a ideia de atrair Henrique Meirelles, hoje um pré-candidato do PSD. Mandachuva do partido do ministro da Fazenda, o colega de Esplanada Gilberto Kassab também deseja se entender como o PMDB. Mas prefere que, em vez de levar Meirelles, o parceiro tóxico indique um alguém para integar a chapa na condição de vice.
Mesmo com a Lava Jato a pino, partidos identificados com o suborno, o acorbertamento, o compadrio, o patrimonialismo e o fisiologismo percorrem os bastidores das negociações presidenciais como se nada tivesse sido descoberto sobre eles. Representam os valores mais tradicionais da política. E parecem decididos a perpetuá-los.