No RN, o assunto também provocou comoção, especialmente no meio acadêmico – se faz necessário convocar uma assembleia constituinte exclusiva para fazer um reordenamento do Brasil, a CF de 88 já mostrou que não deu certo, além de confusa é corporativista e policialesca.
A morte do professor Luiz Carlos Cancellier Olivo, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), gerou repercussão na internet e provocou debates. Em Goiás, o assunto também provocou comoção, especialmente no meio acadêmico.
Luiz Carlos estava à frente da UFSC desde maio de 2016. Em 14 de setembro deste ano, ele foi preso na Operação Ouvidos Moucos, suspeito de desviar recursos destinados a Cursos de Educação à Distância (EaD) da instituição. Sua detenção, temporária, pelo prazo de cinco dias, foi decretada no dia 25 de agosto, junto com a ordem de seu afastamento do cargo que ocupava na universidade.
Na última segunda (2), Luiz Carlos tirou a própria vida no Beiramar Shopping, em Florianópolis (SC). Ele caiu no vão central do estabelecimento por volta das 10h30. Segundo a Polícia Civil de Santa Catarina, ele deixou um bilhete onde dizia: “Minha morte foi decretada no dia de minha prisão”.
De acordo com texto publicado no site ClickRBS, na coluna de Moacir Pereira, o reitor não conseguiu neutralizar os efeitos políticos, sociais e psicológicos da sua prisão. Com toda a vida dedicada à Universidade e à educação, viu o esforço acadêmico e político de décadas desmoronar do dia para a noite, entrou em um processo depressivo e passou a tomar medicamentos.
Aos amigos e familiares, ele se mostrava inconformado, sobretudo, porque todos os supostos atos irregulares na UFSC foram praticados nas gestões anteriores à sua, informação atestada pela própria Polícia Federal. De acordo com pessoas mais próximas, a autorização da juíza federal de autorizar sua presença na UFSC por apenas duas horas e meia pode ter sido o fator culminante que o levou a praticar o suicídio.
Em artigo escrito para o jornal O Globo, publicado em 28 de setembro, Luiz Carlos reclamou da humilhação e do vexame a que ele e colegas foram submetidos. “No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira”, declarou. “Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma ‘quadrilha’, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.”
Repercussão
Diversas entidades se manifestaram após a morte de Luiz Carlos. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em texto publicado também no site da Universidade Federal de Goiás (UFG), declarou que “o sentimento de pesar compartilhado por todos(as) os(as) reitores(as) das universidades públicas federais, neste momento, é acompanhado de absoluta indignação e inconformismo com o modo como foi tratado por autoridades públicas o Reitor Cancellier, ante um processo de apuração de atos administrativos, ainda em andamento e sem juízo formado”.
O texto diz que “é inaceitável que pessoas de bem, investidas de responsabilidades públicas de enorme repercussão social tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal”. “É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular. É igualmente intolerável a campanha que os adversários das universidades públicas brasileiras hoje travam, desqualificando suas realizações e seus gestores, como justificativa para suprimir o direito dos cidadãos à educação pública e gratuita.”
A seção catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) também se pronunciou sobre o assunto. A entidade expressou pesar pela morte do reitor e criticou a espetacularização de ações policiais. “É chegada a hora da sociedade brasileira e da comunidade jurídica debaterem seriamente a forma espetacular e midiática como são realizadas as prisões provisórias no Brasil, antes sequer da ouvida dos envolvidos, que dirá sua defesa”, diz nota emitida pela entidade.
O texto ressalta que reputações construídas duramente ao longo de anos podem ser completamente destruídas por conta de uma manchete de jornal. “Para pessoas inocentes, o prejuízo é irreparável. Cabe-lhes a vergonha, a dor, o sentimento de injustiça. O peso destes sentimentos pode ser insuportável.”
Em artigo publicado na revista Consultor Jurídico (ConJur), o repórter Fernando Martines, citando uma entrevista concedida pelo jornalista Mário Rosa, diz que existe a teoria de que “a destruição de reputações por meio de acusações de corrupção se tornou um bom negócio”. “Por um lado, Polícia Federal e Ministério Público aparecem como paladinos da Justiça e ganham capital social. Por outro, a imprensa recebe, de forma gratuita, sem qualquer investimento em reportagens e investigações, informações cuja divulgação é do interesse dos acusadores”. Assim, diz ele, com a supervalorização das acusações, “qualquer crítica a operações e excessos soa como conivência e estímulo à corrupção”.
No Facebook, Luiz Signates, professor adjunto da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia da UFG, descreveu que o “suicídio do Reitor da UFSC talvez seja o mais trágico e visível testemunho público do momento de um país que perde velozmente suas referências civilizatórias”. “Acusado injustamente, sofreu a brutalidade de ser preso, e, sem qualquer chance de se defender, passou a pagar com a mais cruel das punições aplicáveis a um professor que tenha dedicado a vida à Universidade: a perda da dignidade pública”, escreveu.
Conforme o professor, a morte de Luiz Carlos é sinal de que o Brasil tem perdido a democracia e a civilização. “Que nos sirva de alerta”, conclui.