Brasília – Em jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), na terça-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ter avisado o presidente Michel Temer de que há muitas insatisfações na base aliada, recomendou uma espécie de “refundação” do governo e previu que ele enfrentará mais dificuldades na votação da segunda denúncia.
Maia lamentou que Temer não tenha seguido o seu conselho, dado após a Câmara impedir a abertura de processo por corrupção passiva no Supremo Tribunal Federal, em agosto. Na época, o deputado chegou a sugerir ao presidente até mesmo mudanças no Ministério. “Só que ele não fez”, observou.
Às vésperas de deixar o cargo, no mês passado, o então procurador-geral da República Rodrigo Janot acusou Temer dos crimes de organização criminosa e obstrução da Justiça. Na avaliação de Maia, o cenário político, agora, está mais conturbado.
O jantar de terça-feira reuniu senadores e deputados, a maioria de oposição ao Palácio do Planalto, como o ex-líder do PMDB Renan Calheiros (AL), que não poupou críticas a Temer e à condução do governo. “Foi uma reunião entre amigos. Minha casa não é local de conspiração. As críticas que faço ao governo são à luz do dia”, disse Kátia, que desde meados de setembro está suspensa de suas atividades partidárias por dar causa de declarações contra a cúpula do PMDB.
As estocadas na direção de Temer, as eleições de 2018 e a crise institucional protagonizada por Executivo, Legislativo e Judiciário predominaram no encontro. “A voz corrente na Câmara e no Senado é que a denúncia contra Temer e os ministros (Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral) deve ser rejeitada, mas ninguém sabe se o Brasil aguentará o custo disso. Vai sair muito caro”, afirmou o senador Jorge Viana (PT-AC), presente ao jantar. “Teremos um presidente sangrando até 2018”, insistiu Renan.
Maia disse esperar “respeito” do PMDB, que vem assediando parlamentares em negociação com o DEM, mas não falou em rompimento com o governo, embora suas relações com o Planalto estejam desgastadas. O presidente da Câmara é o primeiro na linha de sucessão de Temer.
“Eu me manifestei no jantar para dizer ao Rodrigo que ele tem um papel muito importante nesse processo todo, até 2018. De um lado, o governo semiparlamentarista está fragilizado e, de outro, ele vem assumindo cada vez mais protagonismo”, argumentou o senador Armando Monteiro (PTB-PE).
A difícil situação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), afastado do mandato pelo Supremo – após denúncia apresentada com base nas delações da JBS – foi outro tema do encontro. Para Renan, o Senado se “acovardou” ao esperar o julgamento do Supremo, marcado para o dia 17. A avaliação ali, porém, foi a de que a maioria do Senado não quis desafiar a Corte por temer retaliações, já que vários parlamentares são alvos da Lava Jato. (Vera Rosa)