A decisão do juiz Marcelo Bretas de transferir o ex-governador Sérgio Cabral foi comemorada por sites e canais de youtube mantidos por fanáticos da direita ou por lideranças evangélicas, além, é claro, do representante do Ministério Público Federal, acusador no processo e autor do requerimento de transferência de Cabral.
Cabral citou que a família de Bretas tem comércio de bijouterias no Rio, por isso ele entenderia de jóias e que, segundo o ex-governador, seria difícil “lavar” dinheiro com jóias. Bretas se sentiu ofendido com a citação da família e suspeitou de ameaça. Não por acaso no fim da audiência já havia pedido do MP, acolhido pelo juiz, para a transferência do político preso por suposto acesso a informações privilegiadas.
Em suma, no calor do debate, Cabral se esqueceu de dizer que leu no Estadão uma entrevista detalhada e ampla de Bretas sobre sua vida e sua família. E o juiz faltou à memória ao desconfiar de perseguição.
Era previsível que Bretas reagiria de uma forma que juristas consideraram “arbitrária”.
“Foi manifestação arbitrária de poder, cuja legalidade deve ser questionada”, disse o criminalista Antonio Pedro Melchior.
O juiz talvez não tenha se dado conta de que a revelação de que sua família comercializa bijuterias partiu do pai dele, no perfil sobre o juiz publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, no dia 2 de setembro.
“Já nascemos na igreja evangélica”, disse ao Estado o comerciante Adenir de Paula Bretas, de 73 anos, descendência espanhola, pai do juiz. Seus olhos muito azuis – que encantaram dona Valdete -tomam conta de uma grande loja de bijuterias no Saara, movimentado comércio popular no centro do Rio. O comerciante constrói e aluga imóveis, também. Assinou a carteira profissional de Marcelo, o mais velho de quatro, quando este tinha 12 anos. O garoto, nascido em Nilópolis e criado em Queimados, na Baixada Fluminense, mais atrapalhava do que ajudava em um pequeno supermercado que o pai fazia prosperar, antes das bijouterias”, informa o texto, assinado por Luiz Maklouf de Carvalho.
De Marcelo Bretas, se sabe, por exemplo, a igreja que frequenta — Comunidade Internacional Evangélica da Zona Sul — e quem é seu pastor, Marco Antônio Peixoto, vice-presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb), entidade presidida por Silas Malafaia, indiciado por lavagem de dinheiro na Operação Timóteo, da Polícia Federal.
A igreja e o nome do pastor foram revelados por ele ou pela família dele.
O pastor Marco Antônio Peixoto acompanhou Bretas na solenidade da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde ele recebeu no dia 12 de junho o conjunto de medalhas de mérito Pedro Ernesto, concedida por iniciativa do vereador Otoni de Paula, do PSC.
No discurso, Bretas revelou um pouco do que pensa: “O Poder Judiciário está numa cruzada. Sim, estamos numa cruzada contra a corrupção”.
Cruzada é um termo que define movimentos militares de inspiração cristã, palavra criada no auge da disputa entre muçulmanos e religiosos cristãos pelo controle de Jerusalém.
Fonte: www.diariodocentrodomundo.com.br