Colunista do UOL
Ao adquirir uma mansão em Brasília por R$ 5,97 milhões, Flávio Bolsonaro adicionou fermento à maçaroca em que se transformou o seu patrimônio. A pizza que o Superior Tribunal de Justiça começou a assar ficou maior do que o forno. A imagem da 5ª Turma da Corte ficou bem rachadinha na semana passada, quando a quebra dos sigilos bancário e fiscal do Zero Um foi suspensa por 4 votos a 1. Se as labaredas não forem apagadas, o STJ se arrisca a virar carvão junto com a investigação que a família Bolsonaro deseja incinerar.
“Eu vendi um imóvel que eu tinha no Rio de Janeiro, vendi uma franquia que eu possuía também no Rio de Janeiro, e dei entrada numa casa aqui em Brasília”, disse o primogênito de Jair Bolsonaro. De acordo com a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro, a franquia a que se refere Flávio é uma loja de chocolates utilizada para lavar dinheiro surrupiado da folha salarial do gabinete do agora senador na época em que dava expediente como deputado estadual.
Parte da verba pública desviada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro foi higienizada também em transações imobiliárias que fizeram de Flávio Bolsonaro um distraído gênio das finanças. Distraído porque pagou parte dos imóveis que comprou em moeda sonante. Carregava maços de dinheiro pelas ruas do Rio de Janeiro sem se dar conta do perigo. Genial porque obteve uma rentabilidade de causar inveja aos melhores estrategistas financeiros do país.
Uma criança de cinco anos é capaz de enxergar os liames que vinculam a compra da mansão em Brasília com o processo da rachadinha. Um processo que a 5ª Turma do STJ pode assar um pouco mais se deferir outros recursos de Flávio, ainda pendentes de julgamento. Entre eles o que pede a anulação dos atos praticados nos autos pelo juiz Flávio Itabaiana, que cuidou das investigações antes que o caso fosse inusitadamente transferido para o Tribunal de Justiça do Rio.
De resto, vigoram na Receita Federal regras que preveem a abertura automática de procedimentos fiscais sempre que um contribuinte exibe sinais exteriores de riqueza incompatíveis com a renda. O valor da mansão comprada por Flávio Bolsonaro corresponde a quase quatro vezes o patrimônio declarado pelo senador à Justiça Eleitoral nas eleições de 2018: R$ 1,7 milhão. Estão incluídos nessa cifra dois imóveis e as cotas do Zero Um na lojinha de chocolates que ele alega ter passado adiante para ajudar a pagar o cafofo milionário do Lago Sul, bairro chique de Brasília.
Há mais: os registros da compra da mansão informam que um pedaço do valor foi bancada por meio de empréstimo de R$ 3,1 milhões obtido junto ao Banco de Brasília, casa bancária do governo do Distrito Federal, chefiado pelo amigo Ibaneis Rocha. Embora os juros tenham sido adoçados, a prestação mensal roda na casa dos R$ 18 mil .—mais da metade dos cerca de R$ 25 mil que Flávio recebe do Senado depois que são aplicados os descontos no contracheque.
A compra da mansão foi registrada em 29 de janeiro. O nome da mulher do primogênito, Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro, figura nos registros ao lado do marido. A menos que madame demonstre que também levará a mão à bolsa, a conta não fecha. Fica boiando no ar rarefeito de Brasília uma incômoda interrogação: a Receita Federal abrirá uma investigação fiscal contra o filho do presidente ou jogará orégano sobre a maçaroca?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL