Mirthyani Bezerra
Do UOL, em São Paulo
O procurador da República Ângelo Goulart Villela afirmou emocionado, durante depoimento à CPI da JBS, nesta terça-feira (17), que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot agiu com o “fígado” em relação a ele, após se sentir “traído”. A traição, segundo Villela, seria a sua aproximação com a atual procuradora-geral Raquel Dodge, desafeto de Janot.
“Janot agiu com fígado em relação a mim, porque se sentiu traído. Porque eu estaria me bandeando para o lado da arquirrival dele [Raquel Dodge], como se isso, ainda que fosse verdadeiro, legitimasse uma atuação devastadora em relação a mim”, afirmou.
Para Villela, que chegou a ser preso acusado de vazar informações para a JBS, sua detenção foi uma forma usada por Janot para “proteger” o ex-procurador Marcelo Miller, um dos principais assessores de ex-procurador-geral. O procurador está afastado, foi preso em maio deste ano e ficou no Complexo da Papuda, em Brasília, até agosto, quando foi solto por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
Já Miller, que pediu exoneração do órgão para atuar no escritório de advocacia da defesa da JBS, virou o pivô da crise que terminou com perda de benefícios de partes dos delatores da empresa.
“A questão do Rodrigo Janot, na minha opinião, deputado, era mais do que uma proteção ao Marcelo Miller. A minha questão em relação a ele é que ele precisava deixar bem claro nesse ambiente que a gente vive, midiático, de combate desenfreado da corrupção, de queridinho da mídia, de super-herói, era deixar claro que ele atuava de forma imparcial, que o compromisso dele seria única e exclusivamente combater a corrupção, doa a quem doer”, disse.
E completou: “Ele precisava, e eu fui muito útil [quando preso] nesse ponto, de demonstrar que não havia motivação política nem interesse de derrubar um presidente da República”.
Villela disse ainda que Janot “falseou a verdade” ao incluí-lo no que chamou de “trama” da delação premiada da empresa.
“Houve por parte do ex-procurador-geral (Rodrigo Janot) uma tratativa de falsear a verdade”, disse Villela ao comentar a declaração dada por Janot de que ele teria agido por conta própria. Em que acrescentou: “Ele está confundindo com o ofício de tralho dele, no qual ele é o único legitimador ser o procurador-geral da República. Na força tarefa não. Eu tracei uma metodologia de trabalho e conversaria com ele quando tivesse algo mais pontual”, afirmou.
Ele exemplificou o argumento citando o caso Eldorado. “Eu tinha atribuição desde o princípio para atuar no caso Eldorado, tinha autonomia. O fato de ter que conversar com o coordenador da força tarefa não exime a minha atribuição para atuar”, afirmou.
Villela foi preso durante a Operação Patmos, após suspeitas de que ele teria vazado informações sobre a Operação Greenfield, que tinha como alvo o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O procurador integrava a força-tarefa da operação desde março deste ano. Segundo as investigações, ele teria recebido uma mesada de R$ 50 mil dos Batista.