Delator diz que firma ligada a plano de saúde repassou R$ 2,4 mi a pedido de lobista do PMDB

O lobista Milton Lyra, citado na Lava Jato como operador de senadores do PMDB
O lobista Milton Lyra, citado na Lava Jato como operador de senadores do PMDB…

Eduardo Militão

Colaboração para o UOL, em Brasília

Uma empresa de consultoria de capital social de R$ 1.000 repassou R$ 2,47 milhões à vista em uma conta bancária usada para lavar dinheiro para um lobista do PMDB, segundo depoimento do próprio destinatário da suposta propina, Flávio Calazans de Freitas.

Em seu acordo de delação premiada com a Lava Jato, homologado por Sergio Moro, ele diz que, em 2014, durante a campanha eleitoral, recebia valores a mando do lobista Milton Lyra. Para o Ministério Público, Lyra era “operador de senadores do PMDB”, como Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR). Os parlamentares negam qualquer irregularidade (veja mais abaixo).

Calazans disse que repassava os recursos depositados para contas indicadas por Lyra e outros dois empresários, todos sob investigação.

Conforme o advogado declarou à força-tarefa da Lava Jato, a empresa IGS pagou os R$ 2,47 milhões na sua conta em 5 de setembro de 2014 para seu escritório de advocacia. Este valor está em planilha apresentada por ele aos procuradores da força-tarefa.

No mesmo ano de 2014, Calazans recebeu mais R$ 1,1 milhão de três empresas do grupo de plano de saúde Amil.

Nessa época, o Congresso aprovou duas medidas provisórias de interesse dos planos de saúde, uma para perdoar multas das empresas e outra para permitir o ingresso de capital estrangeiro no setor. Até onde se sabe, os investigadores de Curitiba ainda não fizeram relação de causa e efeito sobre esse caso, mas a norma já é investigada pelo Ministério Público e a relação da Amil com essa medida provisória embasou uma das denúncias da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer.

Gigante entre os planos de saúde

A reportagem visitou o prédio onde deveria estar instalada a IGS, no centro de Luziânia (GO), no Entorno de Brasília, mas não encontrou placa nenhuma da empresa.

De acordo com os registros da Receita Federal, a consultoria está instalada numa sala de um prédio de três andares chamado Centro Empresarial Maria Lucinda Leite.

No mesmo endereço e telefone, a Receita registra uma administradora de planos de saúde, a Aliança.

Criada pelo empresário fluminense Elon Gomes de Almeida, a Aliança Benefícios é de propriedade da Qualicorp, de José Seripieri Júnior, uma das gigantes do setor de operação de planos de saúde no país, da qual Almeida foi sócio.

Em entrevista, Almeida disse que a IGS o ajudou na venda de parte de sua empresa para a Qualicorp, que tem “relação muito próxima” com a IGS, mas não é seu dono, e sim Arthur Yuwao Uenoyama.