Felipe Amorim
Do UOL, em Brasília
O ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) afirmou em depoimento nesta segunda-feira (6) que o delator Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, entregou dinheiro de caixa dois para sua campanha ao governo do Rio Grande do Norte em 2014.
“É verdade, ele trouxe [o dinheiro], não tem por que negar. Talvez de empresas que, em forma de doação, davam a minha campanha”, disse ele, sem especificar quais teriam sido as empresas.
Segundo Alves, porém, o dinheiro não foi contrapartida pelo esquema de corrupção no qual ele é investigado. “Nada além disso, sem qualquer vinculação, sem qualquer discussão prévia, sem toma lá dá cá, isso nunca existiu”, afirmou.
Ao responder a pergunta de seu próprio advogado, Alves afirmou que o dinheiro era de caixa dois, ou seja, não foi declarado na prestação oficial de contas de campanha.
“Não, não foi declarada, não sei exatamente o valor”, disse o ex-ministro.
Apesar de o caixa dois ser considerado crime, este não é o motivo pelo qual Alves é investigado. O ex-ministro é réu, junto com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por suspeitas de participar de um esquema de corrupção na Caixa Econômica para cobrança de propinas na liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimento ligado ao banco estatal.
Henrique Alves negou ter participado de qualquer atividade irregular ligada a essa investigação.
O delator Lúcio Funaro também é réu nesta ação, assim como o ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Fábio Cleto e o empresário Alexandre Margotto. Esses dois últimos também são delatores.
Henrique Alves está preso desde junho, após ter sido deflagrada uma operação, desdobramento da Lava Jato, que apurou suspeitas de corrupção na construção da Arena das Dunas, o estádio de Natal que recebeu jogos da Copa do Mundo de 2014.
Choro e conta na Suíça
No depoimento Alves também afirmou não saber a origem de depósitos identificados em uma conta aberta por ele na Suíça. O ex-ministro disse nunca ter movimentado a conta e afirmou que tomou conhecimento dos depósitos pela imprensa, quando foram divulgados depoimentos dos delatores.
Segundo o ex-ministro, a conta foi aberta com o objetivo de preservar parte do patrimônio dele, que estava envolvido na época em um divórcio e uma disputa familiar sobre a herança de seu pai. “Nunca recebi nada nessa conta da parte de ninguém”, disse Alves.
Em alguns momentos do depoimento, Alves demonstrou emoção e chorou ao afirmar sua inocência e citar a relação com sua família.
“Me desculpe a emoção”, disse Alves, em resposta ao juiz Vallisney de Oliveira.
O processo agora chega a sua fase final. Com o fim dos depoimentos das testemunhas e dos réus, o juiz dará um prazo para últimos pedidos de diligências pelas partes, como a apresentação de documentos, por exemplo, e, em seguida, fixará novo prazo para a apresentação de alegações finais.
O juiz Valisney de Oliveira estendeu até o dia 24 de novembro a permanência de Eduardo Cunha em Brasília. O ex-deputado estava preso em Curitiba, onde é investigado em processos da Operação Lava Jato, mas foi transferido para Brasília para participar dos depoimentos sobre a ação da Caixa. A decisão do juiz atendeu a pedido da defesa do ex-deputado, para que ele pudesse conversar com seus advogados na reta final do processo.