Ibovespa cai aos 72 mil pontos com tensão sobre reforma da Previdência

Por Juliana Machado | Valor

SÃO PAULO  –  O Ibovespa passou hoje por um ajuste intenso e que o fez voltar ao patamar de fechamento mais baixo desde o dia 5 de setembro. Com o argumento de que a reforma da Previdência está agora mais distante, depois que o presidente Michel Temer admitiu a possibilidade de não aprová-la, o Ibovespa recuou 2,55%, aos 72.415 pontos.

A queda de hoje foi a maior desde 18 de maio, quando o pânico dos investidores quanto a ameaças à continuidade do governo Temer, após a delação dos donos da JBS, levou o Ibovespa a recuar 8,80%.

Hoje, o volume negociado no dia foi muito forte, o que significa que de fato os investidores desfizeram ou zeraram posições — apenas quatro ações fecharam o dia em alta, de 59 ativos que fazem parte do índice. O giro totalizou R$ 10,3 bilhões.

Para Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor, o receio é de que o atraso na reforma leve o país a receber um novo corte pelas agências de classificação de risco. A nota soberana do Brasil já está atualmente em nível especulativo.

No entanto, gestores e analistas também ponderam que o movimento de hoje ainda é pontual e não representa uma mudança de curso para a bolsa ou que ela tenha outro preço. Segundo Rodrigo Menon, sócio da Arbitral Gestão da Recursos, a queda forte do dia reflete um efeito generalizado do mercado reconhecendo que mesmo uma reforma mais enxuta pode simplesmente não acontecer mais. “Mas isso é um recuo considerado normal porque o mercado subiu muito rapidamente e não tinha colocado a não aprovação em pauta”, afirma.

Menon reforça que a tendência não mudou porque a perspectiva para 2018 ainda é de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), dado o cenário de juro mais baixo, que impulsiona crédito e consumo, e também a base de comparação extremamente ruim dos anos de recessão.

Outro fator importante para explicar o movimento de queda forte é a saída recente de estrangeiros do mercado local, que também não representa uma mudança de tendência, mas um importante movimento de embolsar lucros após a forte escalada de patamar do índice e diante de efeitos globais para diversos emergentes, como a reforma tributária e a mudança na presidência do banco central dos Estados Unidos.

Entre as piores baixas do dia, a ênfase ficou a cargo de ações de “beta alto”, isto é, que oscilam com maior intensidade em relação à própria bolsa, como Usiminas (-8,68%, a R$ 8,10), e Metalúrgica Gerdau (-5,93%, a R$ 4,92). Na ponta positiva, mais uma vez, as expectativas em torno da privatização da Eletrobras entoaram ganhos para a ON (+2,41%, a R$ 21,22) e para a PNB (+1,29%, a R$ 24,31).