ITACURUÇÁ (RJ) – Um cinegrafista da TV Globo foi forçado por um agente da Polícia Federal a apagar imagens que gravou do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) nesta sexta-feira. O profissional da imprensa acompanhava a visita de Bolsonaro ao Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (Cadim), área da União administrada pela Marinha, no Rio de Janeiro, e embarcou junto com o presidente eleito e aliados no cais do Clube Náutico de Itacuruçá.
Bolsonaro foi à Restinga de Marambaia e passou a tarde com sua esposa Michelle e amigos. O cinegrafista estava a trabalho, com seu equipamento, gravando imagens do presidente eleito. Na Restinga de Marambaia, foi abordado pela PF e forçado a apagar as imagens. Depois, foi obrigado a voltar imediatamente para o local onde embarcou. O policial federal coletou dados e tirou foto do cinegrafista.
Procurada, a PF informou que não havia como falar com a reportagem porque hoje não tem expediente.
No Iate Clube, onde Bolsonaro embarcou, a imprensa foi expulsa pelo diretor social da instituição, que se identificou apenas como Valdir. O diretor disse ser militar e ameaçou prender repórteres que esperavam Bolsonaro no pier do clube.
Em nota à imprensa, a Marinha não informou quem custeou a visita de Bolsonaro ao local, quantas pessoas trazidas por Bolsonaro usaram o barco da Marinha ou tiveram acesso à área da União.
Por meio da nota, a Marinha disse apenas que o “político visitou a Organização Militar da Marinha que, tradicionalmente, oferece privacidade e segurança para autoridades nacionais e estrangeiras”.
Imprensa barrada
Hoje, Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito e vereador no Rio de Janeiro, postou em uma rede social vídeo com trecho da entrevista concedida ontem pelo pai. Nas imagens, Bolsonaro aparece dizendo que não impediu parte da imprensa de participar da entrevista.
No texto publicado no Instagram, Carlos diz que “tem gente que tem o único intuito de denegrir e virarão pó pelo próprio descrédito que riam. Veja a simples resposta que foi ignorada para propositalmente induzir que o presidente eleito teria vetado parte da imprensa e seria contra a liberdade nos meios de comunicação”.
Ao contrário do que afirma o presidente eleito no trecho e o vereador no texto, parte da imprensa foi, sim, barrada na entrevista de ontem. Veículos como os jornais Valor Econômico, O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, Rádio CBN e agência Bloomberg foram vetados.
A prática tem sido recorrente. Bolsonaro permitiu que 21 profissionais — quase todos de televisão — entrassem. O grupo correspondeu a menos da metade dos jornalistas e fotógrafos que aguardavam do lado de fora da residência.
Uma agente da Polícia Federal foi responsável por chamar os jornalistas que estavam liberados para entrar — e portava uma prancheta com poucos nomes de emissoras de televisão anotados em uma folha de papel. Quando contestada sobre os critérios de escolha, a agente disse apenas que não poderia liberar o restante da imprensa.