LONDRINA E CURITIBA – Faz quatro anos que o futuro ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, escolheu o interior para morar. Em Londrina, no norte do Paraná, onde vive atualmente, ele dá aulas regulares nos cursos de administração e direito em uma faculdade da cidade, onde alunos e professores o qualificam como um intelectual polido e de bom relacionamento, apesar de seus posicionamentos enfáticos sobre a política brasileira.
“Ele é um moderado, aberto a pensamentos contraditórios. Trata outras ideias com educação e respeito”, diz a professora Valéria Martins Oliveira, coordenadora do curso de direito da Faculdade Positivo Londrina, onde Vélez leciona.
O colombiano naturalizado brasileiro conduz as disciplinas de história do direito, filosofia e teorias da justiça. Neste ano, estruturou a matriz curricular para a abertura do curso de relações internacionais, cuja oferta depende da aprovação do Ministério da Educação. Ele aparece como o coordenador do curso, na proposta (a universidade diz que irá escolher outro nome até o fim do ano).
Foi Oliveira quem contratou o professor em 2014, depois de o futuro ministro entregar-lhe o currículo, logo após se mudar para a cidade. Para ela, o perfil conservador do filósofo, que é um crítico ferrenho do PT e do ex-presidente Lula, já manifestou simpatia à monarquia e elogiou a luta contra uma ditadura comunista durante o regime militar, não deve interferir nas políticas educacionais que eventualmente adotará.
“Ele já foi um marxista militante; hoje, é um militante da liberdade”, afirma José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, que comprou a faculdade de Londrina no ano passado.
Pio conheceu Vélez em uma reunião com professores. Diz ter tido uma excelente impressão do futuro ministro, que chamou de “um intelectual altamente preparado” e “extremamente educado, polido, dócil, de relacionamento muito fácil”. “Os alunos o adoram”, afirma.
Docentes, alunos e formandos que tiveram aula com Vélez classificam o futuro ministro de Jair Bolsonaro (PSL) como um homem de intelecto admirável e de humildade notável.
Em sala de aula, segundo relatos, tem um relacionamento leve e aberto com os estudantes, faz brincadeiras e constantes citações para embasar o conteúdo. “Tudo que ele falava, dizia o nome do autor do artigo ou do livro. Seu lema era ‘ou você lê, ou você lê'”, comenta Flávia Borges, que teve aula com Vélez no segundo semestre – ela atualmente cursa o oitavo.
Ronivaldo Pereira do Carmo, que conclui o curso de direito neste semestre, diz que o professor é um homem político que ensinou os alunos a pensar criticamente.
Para o formando Caetano Vaz dos Santos, o futuro ministro da Educação é um conservador moderado, “porque a filosofia não permite extremos”.
“Acho que o Brasil precisa de um lado mais conservador na educação. Tem uma série de distorções ideológicas que precisam ser retiradas da nossa educação”, diz o aluno, citando a aprovação automática e a falta de qualidade no ensino básico.
Pio Martins afirma não ter queixas contra o professor. “Agora vamos ver o que ele vai aprontar como gestor. O MEC é um transatlântico, não é fácil”, afirma.
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