BRASÍLIA – A Executiva Nacional do PSB aprovou nesta segunda-feira (5) documento em que o partido estabelece que adotará postura de resistência ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), mas que não fará oposição sistemática ao governo do militar. Com isso, ficou decidido que será feita uma oposição pragmática, abrindo espaço para diálogo com o capitão da reserva em algumas pautas específicas.
“A agenda política majoritária que emergiu das eleições nos encaminha para a oposição do governo e às pautas que tem apresentado até aqui”, diz o documento. “Não é o caso de inviabilizar o governo, de lhe fazer oposição sistemática, mas de moderá-lo até o ponto – sempre e onde for possível -, que prevaleçam as teses e agendas de interesse nacional e de nossa população”.
Entre os presentes estavam os governadores eleitos Paulo Câmara, de Pernambuco, e Renato Casagrande, do Espirito Santo, além de Márcio França e Rodrigo Rollemberg, derrotados nas urnas nas disputas pelos governos de São Paulo e Distrito Federal, respectivamente.
Após a reunião, Siqueira afirmou que o documento avalia que o partido foi colocado na oposição pelo resultado eleitoral, com a vitória de Bolsonaro, “porque não apoiamos o candidato que ganhou”.
“Bolsonaro pensa diametralmente oposto do que nós pensamos. Naturalmente, vamos exercer uma oposição em face de questões concretas que sejam colocadas e na defesa intransigente da democracia, da liberdade de imprensa e da preservação de direitos sociais conquistados nos 30 anos de democracia. Não faremos oposição sistemática. O governo não se estabeleceu e não sabemos exatamente o que ele vai propor. Nós imaginamos, mas não temos certeza. Vamos agir em face da realidade, em face das proposições que o governo fizer, que o governo venha a adotar. Mas evidentemente os prenúncios não são dos melhores”.
O presidente do PSB admitiu que os partidos de esquerda não gostaram das declarações de lideranças petistas de que já havia sido escalado um comandante para a oposição ao governo de Bolsonaro. “Não haverá uma oposição. Serão várias oposições e naturalmente nós formaremos um bloco que será amplo. No momento, já há conversas iniciais com o PDT e o PCdoB, mas também poderá agregar outros partidos como o PPS, o PV e outros que sejam defensores da democracia e dos direitos da população brasileira”.
Em tom crítico, Márcio França disse que, com o governo de Bolsonaro, “as preocupações não são só ideológicas, são com o destino do país”.
Em outro trecho do documento assinado pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, a legenda destaca que defenderá a democracia e a liberdade de imprensa, resistindo a bandeiras do totalitarismo que eventualmente sejam levantadas pelo governo de Bolsonaro. Além disso, o partido não fará “oposição a partir de uma perspectiva abstrata, opondo sem qualquer mediação possível, visões de mundos que, em sua literalidade, são irreconciliáveis”.
“A lógica do ‘quanto pior, melhor’ não nos cativa ou estimula, e não faremos do sofrimento dos brasileiros trampolins para o próximo pleito eleitoral. Somos uma oposição com brios e valores”, pontua o texto do PSB.
Na avaliação da sigla, o resultado das eleições demonstra uma resposta da sociedade às práticas da velha política. Com o voto, o eleitorado, acredita o partido, condenou o “toma lá, dá cá” e demonstrou “inconformidade com as manobras que visavam à perpetuação do poder”. “O eleitor penalizou os que há muito faziam malabarismos para permanecer no poder e dentre esses, instituições e agentes políticos que associou à agenda antipopular de Michel Temer”.
Além disso, o PSB avaliou que “a guinada conservadora” que caracteriza a vitória de Bolsonaro nas urnas tem “ares de um ajuste de contas com as velhas práticas políticas”.